As doenças do feijão estão entre os principais fatores que podem prejudicar o desenvolvimento e produção do feijoeiro, a ponto de levar à perda total da lavoura.
Em geral, essas doenças são causadas por fungos, bactérias e vírus e podem ser controladas a partir de práticas de manejo.
Pensando nisso, preparamos este artigo para te ajudar a identificar as doenças do feijão e mostrar os melhores meios de combatê-las.
Confira a seguir!
Quais são as principais doenças do feijão?
Várias doenças podem acometer a cultura de feijão. Dentre elas, podemos citar:
- Podridão radicular de Rhizoctonia;
- Murcha de Fusarium;
- Mancha angular;
- Ferrugem;
- Oídio;
- Mofo-branco;
- Antracnose;
- Crestamento-bacteriano-comum;
- Mosaico dourado do feijoeiro.
Vamos ver mais sobre cada uma delas abaixo!
1. Podridão radicular de Rhizoctonia (Rhizoctonia solani)
A podridão radicular de Rhizoctonia ou podridão de raízes do feijoeiro é uma das doenças do feijão que podem danificar a cultura de forma severa, afetando principalmente os estádios fenológicos iniciais do feijoeiro.
Sintomas
Esse tipo de doença do feijão tem como agente causal o fungo de solo Rhizoctonia solani, responsável por provocar o típico sintoma de “damping-off” caracterizado pelo estrangulamento do colo de plantas jovens de feijão, resultando no tombamento do ápice da planta.
Em estágios iniciais, o ataque desse fungo leva à má formação de estande e perda de produtividade, além de contaminar as vagens que tiverem contato com o solo, causando danos qualitativos aos grãos de feijão.
O R. solani também pode atacar as sementes, que apodrecem antes de germinar ou durante sua germinação. Assim, se a plântula de feijão é infectada, surge uma lesão na base do caule, de coloração avermelhada.
No mais, a podridão radicular de Rhizoctonia tem como sintomas característicos a ocorrência de lesões arredondadas, irregulares, deprimidas, apresentando tons amarronzados a avermelhados.
A dispersão do fungo pode ocorrer por meio da água da chuva ou irrigação, implementos de máquinas com solo contaminado ou, até mesmo, sementes contaminadas. O patógeno consegue sobreviver em restos de culturas e no solo, com a formação de estruturas conhecidas como escleródios.
Controle
Em relação às formas de manejo para controlar e prevenir a ação desse fungo, podemos citar:
- Uso de sementes sadias;
- Tratamento de sementes com fungicidas;
- Evitar o plantio em solos compactados e encharcados.
2. Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. Phaseoli)
A murcha de Fusarium é uma doença causada pelo fungo de solo Fusarium oxysporum f. sp. Phaseoli, que se desenvolve com mais facilidade sob condições de temperaturas amenas, solo úmido e compactado.
Essa doença pode ocorrer nas fases iniciais do feijoeiro, porém sua incidência mais preocupante acontece nos estádios de pré-floração, florescimento e enchimento das vagens.
Além disso, a sua gravidade está diretamente associada a fatores como o grau de resistência da cultivar e as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Sintomas
É possível identificar os sintomas da murcha de Fusarium por meio de características como amarelecimentos e murcha generalizada ou parcial da parte área do feijão.
Sendo assim, as plantas apresentam sintomas de murcha nos períodos mais quentes do dia, retornando a turgidez ao entardecer. Entretanto, quando a murcha é irreversível, ocorre a desfolha da planta com posterior morte.
No mais, quando infectadas, as plantas jovens de feijoeiro manifestam redução do crescimento da parte aérea e do sistema radicular. Já em condições severas de infecção, as plantas podem morrer, pois o fungo impede o transporte de água e sais minerais para a parte aérea das plantas.
Controle
Para controlar a murcha de Fusarium, é extremamente importante realizar monitoramentos periódicos na área para avaliar a presença de pragas e doenças do feijão.
Além disso, ter conhecimento sobre o histórico da área e analisar a distribuição dos sintomas na lavoura também é fundamental para realizar o diagnóstico.
Outra forma de controle da doença é por resistência genética. No entanto, vale ressaltar que uma cultivar pode não ser resistente a todas as raças do patógeno.
Nesse sentido, para identificar quais espécies são encontradas em uma região e indicar cultivares resistentes para o plantio, é preciso encaminhar amostras de plantas doentes para instituições de pesquisa ou de ensino que trabalham com feijoeiro-comum.
Ademais, também são formas de realizar o manejo de controle desse tipo de doença:
- Uso de sementes sadias e tratadas;
- Semeadura rasa;
- Plantio em épocas de temperaturas mais elevadas;
- Uso de solos profundos e rotacionados com gramíneas, sem acúmulo excessivo de umidade.
3. Mancha angular (Phaeoisariopsis griseola)
A mancha angular é uma doença causada pelo fungo Phaeoisariopsis griseola que pode causar lesões em todos os órgãos da planta, mas especialmente nas folhas.
A doença apresenta ocorrência em mais de 60 países com mais de 29 raças e pode sobreviver em sementes, restos de culturas e outros hospedeiros. Como resultado, é capaz de levar até 80% de perdas em produtividade.
Sintomas
Em geral, as folhas são afetadas na parte inferior dos folíolos com pequenas lesões angulares, de coloração marrom acinzentada e delimitadas pelas nervuras.
Conforme ocorre a evolução da mancha angular, as folhas recebem a coloração marrom escura com coalescimento das lesões. Posteriormente, há o amarelecimento e queda, resultando no desfolhamento precoce da cultura de feijão.
Já nos caules e pecíolos, as lesões são alongadas e marrom-escuras. Nas vagens são circulares de aspecto marrom-castanho. A esporulação pode ocorrer tanto nas folhas, caules e pecíolos quanto nas vagens.
Controle
Para realizar o controle eficiente da mancha angular, será necessário seguir as seguintes medidas:
- Uso de variedades resistentes;
- Uso de sementes sadias e certificadas;
- Rotação de culturas;
- Eliminação de restos culturais;
- Aplicação de fungicidas.
No caso do manejo da doença com fungicidas, recomenda-se principalmente o uso de produtos com ação protetora, como os de base de clorotalonil e mancozeb, e fungicidas sistêmicos pertencentes às estrobilurinas (azoxystrobin, piraclostrobina) e triazóis (propiconazole, difenoconazole), com preferência para fungicidas com dois grupos químicos, em termos de maior eficiência.
A rotação de culturas por até dois anos e a eliminação dos restos por meio de aração profunda são medidas extremamente importantes. Isso porque o patógeno sobrevive nos restos culturais por um longo período de tempo.
4. Ferrugem (Uromyces appendiculatus)
Além do feijão, a ferrugem pode afetar uma série de outras culturas, como a soja ou o café. Essa doença é causada por patógenos fúngicos, sendo que no caso do feijão e de outras plantas do gênero Phaseolus spp., é provocada especificamente pelo fungo Uromyces appendiculatus.
De modo geral, os prejuízos causados pela ferrugem são maiores quando ela aparece na cultura antes ou durante a floração. Neste período, ela pode reduzir o rendimento de cultivares suscetíveis em até 70%.
Sintomas
A princípio, a ferrugem apresenta sintomas nas folhas, mas também afeta as vagens e hastes. Em geral, é possível notar os sintomas iniciais na parte inferior das folhas por meio de manchas pequenas, esbranquiçadas e levemente salientes.
Posteriormente, essas manchas aumentam de tamanho até produzirem pústulas maduras e marrom-avermelhadas, onde são encontrados os uredósporos.
Manejo
Para realizar o manejo de controle da ferrugem, é fundamental investir em variedades resistentes. A maioria das cultivares comerciais disponíveis têm resistência à ferrugem.
No entanto, vale ressaltar que as culturas de origem andina (feijão branco e especiais) são mais suscetíveis à doença.
Além disso, os danos costumam ser mais severos quanto mais cedo a doença atinge o ciclo da cultura de feijão.
5. Oídio (Erysiphe polygoni)
O oídio é uma doença do feijão com importância secundária. Geralmente, ocorre com frequência durante e após o estádio de florescimento da cultura.
Em geral, ela surge em condições de temperatura moderada e baixa umidade, o que é comum em cultivos tardios.
Seu agente causador é o fungo Erysiphe polygoni, que ataca toda área da planta, sendo as folhas o órgão mais afetado.
Sintomas
É possível notar os primeiros sintomas do oídio na parte superior das folhas, onde são encontradas pequenas manchas verde-escuras. Posteriormente, elas se desenvolvem para pequenas massas brancas acinzentadas e pulverulentas, que podem-se espalhar por toda a superfície foliar.
Nesse caso, em infecções severas, as folhas podem ficar amareladas e retorcidas, com desfolhamento prematuro.
Controle
Em geral, o manejo de controle mais eficiente para evitar o oídio é o cultivo de cultivares de origem andina nas épocas mais frias e secas do ano.
Além disso, como o clima seco favorece o aparecimento da doença, a ocorrência de chuvas ou a água de irrigação ajudam a promover a sua redução no campo.
Ademais, adotar o uso de cultivares resistentes ao oídio também é uma forma de promover o controle dessa doença nas lavouras.
6. Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
O mofo-branco é uma das doenças do feijão causada por fungos. Possu alta capacidade destrutiva porque as sementes infectadas morrem durante a germinação, enquanto ao seu redor, são produzidos de três a seis escleródios, estruturas de resistência o que permitem a sobrevivência do fungo no solo mesmo com a ausência de hospedeiros.
A doença é causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum e ocorre em cultivos de feijão de todo o mundo.
Sintomas
A princípio, os sintomas do mofo-branco têm início a partir da junção do pecíolo com a haste, aproximadamente de 10 cm a 15 cm acima do solo. com a formação de micélio branco abundante — o mofo.
Os sintomas típicos dessa doença consistem no apodrecimento de hastes, folhas e vagens e no crescimento do mofo.
Podemos notar a infecção na fase de florescimento, quando as pétalas de flores senescentes são colonizadas pelo fungo que, em seguida, penetra em outros órgãos da planta.
Nesse processo, as folhas, hastes e vagens mais severamente atacadas podem apodrecer e cair. Assim, conforme o local atingido e a extensão da necrose, a planta pode amarelecer e morrer.
Controle
Uma das formas de controlar a presença do mofo-branco nas culturas é adotando o sistema de plantio direto. Isso porque a palhada atua como barreira física que reduz a produção de apotécios (estrutura do fungo).
No entanto, como o agente causador possui mais de 400 plantas hospedeiras, pode ser difícil ajustar uma rotação de culturas adequada, pois praticamente só as gramíneas não são afetadas pela doença.
Dessa forma, o controle químico pode ser utilizado de forma preventiva, com a primeira aplicação durante a queda das primeiras flores, em áreas com apotécios formados no solo.
Também é possível empregar os defensivos biológicos de forma preventiva. Assim, as cultivares eretas e precoces ficam menos tempo expostas à doença no campo.
Nesse contexto, recomenda-se rotacionar fungicidas de grupos químicos diferentes, para prevenir o surgimento isolados de S. sclerotiorum resistentes a esses produtos.
7. Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum)
A antracnose é uma doença causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum, que ocorre nos principais estados produtores de feijão. Atualmente é considerada uma das principais doenças do feijão, devido a sua capacidade de provocar a perda total da produção.
Normalmente, a antracnose ocorre nas épocas mais úmidas e com temperaturas mais amenas (em torno de 13 ºC a 26 ºC).
O fungo da doença costuma ser introduzido na área de cultivo por meio das sementes. Posteriormente, o patógeno se dissemina de uma planta para outra por meio das gotas de água da chuva ou da irrigação.
Sintomas
Os sintomas característicos da antracnose podem afetar toda a parte aérea da planta. Assim, é possível observar áreas necrosadas nas nervuras, lesões alongadas nas folhas de cor avermelhada ou marrom-escura.
Nas vagens infectadas ocorrem lesões circulares e deprimidas de tamanho variável e coloração marrom. As bordas costumam ser de um marrom mais escuro que o centro da mancha, caracterizada pela cor acinzentada ou rosada.
Já em vagens recém-formadas, o número alto de lesões é responsável por causar o enrugamento e encurtamento das vagens.
No mais, o fungo também é capaz de infectar sementes e provocar a descoloração e formação de lesões escuras no tegumento ou mesmo nos cotilédones.
Controle
Na prática, uma das formas mais eficientes de controlar a antracnose é utilizando sementes sadias, de cultivares resistentes, com certificação ou submetidas a tratamento químico com fungicidas sistêmicos.
Além disso, a rotação de culturas com gramíneas não hospedeiras, a eliminação de restos culturais e o cultivo em áreas não contaminadas também são formas de evitar o aparecimento dessa doença.
Por fim, em relação ao controle químico, recomenda-se aplicações preventivas e alternadas de grupos químicos distintos para evitar o aparecimento isolado de C. lindemuthianum resistentes aos fungicidas.
8. Crestamento-bacteriano-comum (Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli)
O crestamento-bacteriano-comum, diferente das demais doenças do feijão, é provocado por uma bactéria chamada Xanthomonas axonopodis pv. Phaseoli, capaz de reduzir significativamente a produção.
Em geral, os danos na produção ocorrem em função da ampla disseminação da bactéria e do difícil controle do patógeno. Como resultado, pode acontecer reduções que variam de 10% a 70%.
Sintomas
Em síntese, os sintomas do crestamento-bacteriano-comum caracterizam-se por pequenas manchas verdes escuras, encharcadas e oleosas. Com o progresso da doença, as lesões ficam maiores, com halos cloróticos e amarelos nas extremidades.
Nas lesões mais velhas, o centro necrótico e o halo amarelo ficam mais evidentes, caracterizando o sintoma típico de crestamento-foliar. Como resultado, ocorre a queda prematura das folhas sintomáticas ou mesmo retenção das folhas secas.
O início dos sintomas nas vagens também é com a anasarca — um inchaço — dos tecidos. No entanto, diferentemente das folhas, a evolução do crestamento forma lesões circulares com colorações escuras, avermelhadas e levemente deprimidas.
As sementes afetadas nem sempre manifestam o aparecimento de sintomas. Entretanto, quando isso ocorre, há sementes malformadas, enrugadas e com o tegumento amarelo.
Controle
O controle do crestamento-bacteriano-comum pode ser realizado por meio do controle genético e com a utilização de cultivares resistentes.
A aplicação de produtos cúpricos (com cobre) também é uma opção para retardar o aparecimento de sintomas na lavoura.
9. Mosaico dourado do feijoeiro (BGMV)
O mosaico dourado do feijão é uma doença provocada pelo vírus Bean golden mosaic virus (BGMV), que afeta as principais regiões produtoras de feijão do Brasil. Seus danos são proporcionais à incidência e à época da infecção dentro do ciclo da planta, podendo comprometer 100% da produção da cultura.
Assim como outras doenças causadas por vírus, o BGMV precisa de um vetor para ser introduzido e disseminado pela lavoura de feijão. Neste caso, a mosca branca (Bemisia tabaci) é quem desempenha essa função.
Sintomas
Quando a presença do vetor ocorre de forma precoce — ou seja, cerca de 14 dias após a germinação —, há a indução do amarelecimento foliar intenso característico, com manchas douradas seguindo as áreas entre as nervuras.
Além disso, os folíolos das primeiras folhas trifolioladas aparecem, com frequência, curvados para baixo ou encarquilhados, gerando o clareamento e/ou clorose das nervuras.
Dessa forma, à medida que a planta se desenvolve, os sintomas do mosaico-dourado podem cobrir toda a folha com intensidade variável, conforme a cultivar. Após esta fase, há o aumento dos espaços entre as cloroses próximas à nervura.
Ademais, outros sintomas são a deformação de vagens, plantas com nanismo, perda da dominância apical, brotamento das gemas axilares e retardamento da senescência foliar.
Controle
Podemos adotar diferentes métodos para o controle do mosaico dourado. São eles:
Medidas legislativas: o vazio sanitário adotado para o feijão é uma das medidas efetivas, quando adotado continuamente.
Resistência: a Embrapa desenvolveu a tecnologia do feijoeiro geneticamente modificado, resistente ao vírus.
Manejo Integrado de Pragas: a associação das diversas medidas de controle pode ser efetiva. Ao aliar a antecipação do semeio, com o uso de cultivar resistente e o controle químico da mosca-branca, é possível obter bons resultados. Neste caso, o inseticida pode atuar com eficiência no controle de adultos da mosca-branca, mas não é capaz de evitar a transmissão da virose.
Controle químico: a mosca branca apresenta uma alta taxa de seleção de indivíduos resistentes contra os defensivos utilizados. Assim, consegue rapidamente obter populações resistentes aos ingredientes ativos dos defensivos agrícolas. Por isso, é importante ter um manejo eficiente de princípios ativos.
Conclusão
Neste artigo, apresentamos as principais doenças do feijão, com seus sintomas e formas de controle.
Também explicamos que essas doenças podem ser causadas por fungos, bactérias ou vírus, e que fatores como condições climáticas podem favorecer o desenvolvimento dos patógenos na lavoura.
Gostou desse conteúdo? Então, aproveite e leia nosso artigo sobre as principais doenças da cana-de-açúcar.
Até a próxima!
Formada em Jornalismo, pós-graduada em Marketing e especialista em Comunicação Digital, atuo como Analista de Conteúdo no AgriQ Receituário Agronômico.
1 Comentário
Sebastião Heitor
13/09/2023Artigo muito interessante e bem explicado, gostei deveras do mesmo
Me esclareceu várias dúvidas desta cultura e me auxíliou em como prevenir e tratar casa caso