Imagem de destaque para artigo sobre o uso de agrotóxicos para controle da nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata. Na imagem, vemos um gafanhoto da espécie Schistocerca cancellata (Créditos: Wirestock | Freepik)

Quais defensivos agrícolas utilizar no combate à nuvem de gafanhotos no Brasil?

Quais defensivos agrícolas utilizar no combate à nuvem de gafanhotos no Brasil?

Nesta terça-feira, 30 de junho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou, no Diário Oficial da União (D.O.U), a Portaria nº 208. O documento estabelece quais medidas emergenciais deverão ser adotadas caso a nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata chegue ao território brasileiro.

As novas diretrizes complementam a Portaria nº 201, publicada na última quarta-feira, 24 de junho, que declarou estado de emergência fitossanitária nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A medida, adotada para possibilitar a implementação de um plano de supressão da praga, tem vigência por um prazo de um ano.

De acordo com as últimas atualizações do governo argentino, que está monitorando o deslocamento da nuvem de gafanhotos, não há previsão de que ela esteja rumo ao Brasil. As portarias são medidas preventivas, estabelecidas de forma a orientar e coordenar as ações dos produtores rurais no combate à praga.

Quais são as medidas de combate à nuvem de gafanhotos Schistocerca cancellata caso ela chegue ao Brasil?

A Portaria nº 208 define quais são as medidas emergenciais e diretrizes a serem adotadas para elaboração do plano de supressão à praga.

Segundo o Mapa, o plano deverá ser elaborado pelos órgãos de defesa agropecuária dos estados que podem ser atingidos pela nuvem de gafanhotos: a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado do Rio Grande do Sul (SEAPDR/RS) e pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc).

As ações do plano de supressão devem ser estabelecidas a partir do manual de procedimentos de controle definidos pelo Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícola, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa (DSV/Mapa).

O manual de procedimentos gerais foi elaborado pelo Mapa de acordo com as diretrizes do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (SENASA), agência independente do governo argentino, e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

O que devem conter os planos de supressão da nuvem de gafanhotos Schistocerca cancellata?

De acordo com a portaria, os planos devem conter, obrigatoriamente:

  • Canais para envio de informações relacionadas à identificação da praga em território brasileiro, com vistas à emissão de alertas fitossanitários;
  • Procedimentos operacionais para o monitoramento das características e níveis populacionais da praga;
  • Procedimentos de controle a serem aplicados, em função das diferentes fases de desenvolvimento da praga;
  • Recomendações gerais para o uso de agrotóxicos a serem utilizados nas ações de supressão de surtos da praga, nos casos da ocorrência em sua fase gregária;
  • Mecanismos de controle das quantidades de agrotóxicos distribuídos, comercializados e utilizados no caso de eventual surto da praga no país.

Além disso, os órgãos de defesa agropecuária deverão enviar relatórios trimestrais ao Mapa, com as ações executadas durante o estado de emergência.

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Quais são os defensivos agrícolas liberados para o combate da nuvem de gafanhotos Schistocerca cancellata?

Segundo o manual de procedimentos gerais para o controle do alvo Schistocerca cancellata, deverão ser utilizados, em caráter emergencial e temporário, os inseticidas biológicos a base de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae  e agrotóxicos com acefato1, cipermetrina, deltametrina, dflubenzuron, lambda-cialotrina e malationa como princípio ativo.

Inseticidas biológicos

O Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae  são fungos entomapatogênicos, ou seja, causam doenças em insetos artrópodes, tais como os gafanhotos. Seus esporos (estruturas liberadas para a reprodução dos fungos) germinam sobre o exoesqueleto do gafanhoto, penetrando-o e provocando sua morte

Os inseticidas biológicos, por serem produtos que utilizam organismos vivos no combate às pragas, não geram risco à saúde humana. Se devidamente manejados, também não causam problemas ambientais e podem ser utilizados nas lavouras por um longo período.

Agrotóxicos

Além do Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, a portaria também liberou o uso de agrotóxicos com os seguintes princípios ativos:

  • Acefato1;
  • Cipermetrina;
  • Deltametrina;
  • Dflubenzuron;
  • Lambda-cialotrina;
  • Malationa;

O Acefato1 e o Malationa são princípios ativos da classe organofosforado. Eles atuam no sistema nervoso e muscular dos gafanhotos ao inibirem as enzimas colinesterases, que intensificam os impulsos nervosos do inseto, levando-o à morte.

Cipemetrina, Deltametrina e Lambda-cialotrina, por sua vez, são princípios da classe piretróide. Este ingrediente atua na função nervosa dos gafanhotos, o que os imobiliza e, consequentemente, causa sua morte.

O Diflubenzuron é da classe Benzoiluréia. Este princípio ativo inibe a síntese da enzima quitina nos gafanhotos, que interfere no desenvolvimento do inseto.

No manual de procedimentos gerais, constam dosagens, intervalos de aplicação, limites de resíduos e dosagens máximas dos princípios ativos de acordo com a cultura.

Caso alguma cultura não esteja contemplada no documento e necessite da aplicação destes agrotóxicos, o manual orienta quanto às dosagens máximas dos princípios ativos a serem utilizadas.

Como os defensivos agrícolas devem ser aplicados no combate aos gafanhotos Schistocerca cancellata?

De acordo com o Mapa, a aplicação dos produtos pode ser feita por via terrestre ou aérea.

A aplicação dos defensivos agrícolas autorizados não pode ser feita em altas temperaturas, pois podem ocorrer correntes de ar que afastam o produto da superfície a ser tratada e a evaporação é maior.

Os ínstares do gafanhoto — ou seja, seus diferentes estágios de vida — devem ser levados em consideração para o uso do produto, bem como uma margem de tempo entre uma aplicação e outra.

Após o uso do produto, é essencial verificar a mortalidade dos insetos após a aplicação. Assim, é possível avaliar a eficácia do agrotóxico no combate à praga.

É importante ressaltar que para a aplicação dos defensivos, deve-se fazer a emissão da receita agronômica e ler com atenção o rótulo do produto. Os profissionais que realizarem a aplicação também deverão estar utilizando os devidos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) recomendados.

Após a aplicação dos defensivos, as embalagens vazias devem ser devolvidas conforme a legislação federal e estadual.

O que é uma nuvem de gafanhotos?

A nuvem de gafanhotos é uma formação que ocorre quando há um aumento intenso destes insetos em uma região específica. Sua extensão pode chegar a vários quilômetros, com até 40 milhões de indivíduos por quilômetro quadrado, como no bando atual presente na Argentina, segundo informa o Uol.

Esta concentração de gafanhotos ocorre pelo clima, que favorece sua reprodução e desenvolvimento, e a eliminação de predadores naturais dos insetos.

De acordo com o Uol, a nuvem de gafanhotos pode percorrer até 150 quilômetros por dia, em édia. Esse deslocamento ocorre em busca de alimento.

Não são todas as espécies de gafanhotos que se unem nesta formação. A Schistocerca cancellata é comum na Argentina, Bolívia e Paraguai — foi, inclusive, no último país que surgiu a nuvem atual.

Como está o deslocamento da nuvem de gafanhotos Schistocerca cancellata?

Segundo o Senasa, a nuvem de gafanhotos, atualmente em movimento dentro do território argentino, está se deslocando rumo à região sul do país.

A expectativa é que os gafanhotos sigam rumo ao Uruguai e não cheguem a entrar no território brasileiro, já que a previsão do tempo para a região sul do país não é favorável para a reprodução dos insetos.

O governo brasileiro está monitorando o deslocamento da nuvem de gafanhotos em parceria com a Senasa. Você pode verificar onde ela está localizada em um mapa no site do órgão argentino.

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Julie Tsukada

Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.

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