Imagem de destaque para artigo sobre como pequenos negócios no agronegócio podem se organizar para evitar evitar prejuízos durante a pandemia do Covid-19. Na imagem, vemos dois homens brancos em uma lavoura, durante um dia ensolarado, dando um aperto de mão (Créditos-Shutterstock)

Pequenos negócios no agro: como se organizar durante a pandemia do Covid-19?

Pequenos negócios no agro: como se organizar durante a pandemia do Covid-19?

Uma coisa é certa: quando você organizava o planejamento do seu negócio, não imaginava que estaríamos vivendo uma pandemia global.

O Covid-19 nos pegou todos de surpresa e exigiu ações rápidas. Tivemos que nos adaptar a uma nova realidade, assim como também adequar a forma com que trabalhamos.

No agronegócio, isto não foi diferente. O setor, considerado como atividade essencial, seguiu funcionando, com as devidas adaptações, para atender as demandas internas e externas. As perspectivas de crescimento seguem positivas  —  de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a previsão é que o produto interno bruto (PIB) do setor agropecuária cresça 2,5% em 2020. Mesmo no pior cenário, no qual eventos adversos relacionados à pandemia do Covid-19 afetam mais a produção, ainda haveria um crescimento de 1,3% no mesmo ano.

No entanto, mesmo sofrendo menos impactos do que outros setores, o agronegócio também não passou ileso. Na cadeia produtiva do agro, que vai desde os insumos até ao consumidor final, estão envolvidos vários tipos de negócio — incluindo o pequeno produtor rural e as pequenas e microempresas, mais vulneráveis aos efeitos da crise econômica.

Os efeitos nos pequenos

Segundo uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizada pela internet no fim de março, as pequenas empresas do agronegócio registravam queda de 44% no seu faturamento mensal — dentre os setores avaliados, o que teve a menor redução.

Os números, em grande parte, são reflexo não só do fechamento das lojas físicas, mas também da própria mudança de comportamento do consumidor, que prefere adiar gastos não essenciais e tem procurado evitar aglomerações. As medidas, necessárias para conter o avanço do Covid-19 na população, seguem sendo adotadas, com menos restrições e conforme a realidade de cada região.

Para o pequeno produtor rural, dono de pequenas propriedades e ligado especialmente a produtos de cadeia curta (os hortifrutis e flores, por exemplo, estão incluídos), a comercialização sem os pontos de venda físicos tradicionais, como as feiras, teve impactos não só na sua rotina mas também no faturamento mensal.

Com tantas mudanças, adaptar-se, em um contexto de crise como o atual, é necessidade.

Mas como fazer isso de forma a minimizar os impactos causados pela pandemia?

Fomos atrás disso e conversamos com três especialistas, de diferentes áreas, para entender de que forma você pode reestruturar seu negócio e encontrar soluções para suas principais dificuldades.

Vamos lá?

Planejamento e gestão: juntos, lado a lado

Imagem para post do blog AgriQ Receituário Agronômico, com citação da professora Wendy Carraro. O tema do post é "Pequenos negócios no agro: como se organizar durante a pandemia"

Para gerir qualquer negócio, é preciso de um planejamento — mesmo que ele seja mínimo. Ele é a base da gestão da sua empresa ou da sua propriedade e reúne estratégias e ações para alcançar um objetivo.

Em um momento de crise como o atual, de todos os pontos do planejamento, um dos mais cruciais é a gestão financeira. Mas para fazer isso de forma correta, é necessário saber quais são os gastos da sua empresa, a partir de um levantamento de suas despesas.

Com isso feito, se pergunte: quais são as prioridades do seu negócio neste momento? O que é preciso manter para sustentar sua empresa? Entendendo isso, você consegue saber quais são suas necessidades e assim, corta aquele gasto que não se enquadra nesta categoria.

No momento atual, com as medidas adotadas para contenção do novo coronavírus, a professora Wendy Carraro, do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que alguns gastos vão naturalmente sendo reduzidos — como deslocamento, energia etc.

Wanderson Portugal Lemos, diretor técnico do Sebrae-GO, também destaca a importância de uma boa gestão financeira para o pequeno produtor rural:

Gestão da propriedade como um todo é essencial, mas a parte financeira é importantíssima. o se pode trabalhar no achismo — eu tenho que saber bem qual é meu custo de produção, para que eu possa vender meu produto a um valor adequado e ter sucesso na minha atividade”.

Além de cuidar das finanças e dos processos da sua empresa ou propriedade, também é importante estender a gestão para outros pontos do seu negócio, como clientes e colaboradores. Como o comportamento deles mudou com a pandemia? Como garantir a produtividade e a fidelização? Estes pontos também entram no planejamento, lembra Wendy.

“Nada mais é do que fazer a gestão do meu modelo de negócio. O que eu posso fazer de diferente agora? E quais são os meus riscos? Que riscos podem estar surgindo agora? Como gerenciar isso?  A empresa tem que estar atenta a isso em tempos normais, mas agora, mais ainda.”

Não esqueça das metas de médio e longo prazo

Quando falamos em planejamento, precisamos pensar em metas de curto, médio e longo prazo.

Mas, afinal, qual é o período de tempo que cada uma delas compreende?

Metas de curto prazo, são aquelas que você pretende realizar em menos de um ano — ou seja, são aquelas prioritárias.

As metas de médio prazo, por sua vez, compreende aquelas que você deseja concretizar dentro de um a cinco anos. As de longo prazo já são os objetivos para depois deste período, que você espera realizar em, no mínimo, cinco anos.

Em um momento de crise, como o que estamos vivendo, o mais urgente é pensar naquilo que precisa ser feito a curto prazo. Mas sem pensar a médio e longo prazo, como saber para onde seu negócio deve ir?

Mesmo em um cenário de incertezas, para Marlon Brisola, professor no programa de pós-graduação em agronegócio da Universidade de Brasília (UnB), algo está muito claro: nada do que estamos vivendo será temporário.

“A pandemia veio para ficar. Certamente haverão variações da doença e suas consequências, no que se refere às mudanças de comportamento da população, permanecerão na memória e na vida das pessoas. Logo, planos bem estruturados não podem deixar de ser discutidos e transformados em projetos”

Portugal segue a mesma ideia. “Quem não sonha e não planeja o que quer fazer fica à mercê dos ventos, e acaba indo para onde ele direcionar”, afirma. Segundo o diretor técnico do Sebrae-GO, o produtor rural precisa ter foco neste momento para vencer a crise, mas também pensar no que fazer após ela, por mais incertos que sejam os cenários de retorno. 

Segundo um estudo da Mckinsey & Company, empresa de consultoria empresarial, o ponto crucial quanto a isso é compreender o novo ambiente de consumo à espreita —  e como seu negócio, seja uma microempresa ou uma propriedade rural, pode continuar relevante a longo prazo.

Por isso, Wendy destaca, é preciso estar antenado. “A mudança vai acontecer. É necessário estar aberto a elas e encontrar novas alternativas“. 

Imagem para o blog do AgriQ Receituário Agronômico, com citação de entrevista do Professor Marlon Brisola. O tema do post é "Pequenos negócios no agronegócio: como se organizar durante a pandemia"

Tecnologia e inovação

Crises exigem soluções. Muitas vezes, estas podem ser encontradas pensando fora da caixa — ou seja, inovando.

Inovação, no agronegócio, sempre foi muito associada à tecnologia. Seja com a adoção de softwares para melhorar a gestão de propriedades e empresas ou, até mesmo, de ferramentas e aparelhos mais sofisticados, como robôs e drones.

Já era uma tendência que o campo se tornasse cada vez mais tecnológico. Um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)  em 2018, intitulado de Visão 2030 – o futuro da agricultura brasileira, mostra que com a maioria dos fazendeiros utilizando smartphones e suas inúmeras funcionalidades, a transformação digital será mais intensa com o uso de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), automação e robotização.

A pandemia do Covid-19 adiantou essas projeções, enfatizando a importância que a tecnologia possui em um contexto que exige medidas de distanciamento social. O pequeno produtor rural, para Portugal, têm acompanhado essas mudanças. “Ele sabe que a tecnologia é a única forma de mantê-lo no mercado”, ressalta.

Para Marlon, esta tecnologia deve estar aliada à inovação de processos, com o objetivo de trazer novas formas de relacionamento entre a unidade produtiva (a propriedade rural) e o consumo (os pontos de varejo e os próprios consumidores).

“O uso da internet como veículo para ampliar estes relacionamentos e a visibilidade virtual da produção deve ser utilizado em projetos de ampliação das vendas. Nesse novo contexto, a adoção de ferramentas tecnológicas de comunicação e comercialização será cada vez mais necessária aos produtores – especialmente àqueles que produzem e levam os seus produtos aos consumidores”

No que investir durante uma pandemia?

Para organizar seu novo planejamento, é preciso saber quais dos seus planos seguirão e quais devem ser adiados.

Isto inclui pensar nos investimentos — nas melhorias — que você queria fazer no seu negócio ou em sua propriedade e que, no atual contexto, se encaixam com a sua nova realidade.

Novamente, aqui também é preciso pensar no que é prioridade. Para Wendy, um investimento válido no momento precisa considerar dois pontos: timing e retorno.

É preciso olhar para a lista de necessidades que a empresa ter e analisar o quanto eu vou ter de retorno. Se, por exemplo, eu fizer um site agora, que é um momento que está todo mundo comprando online e meu produto tem este potencial de venda pela internet, eu tenho que investir isso. O que é preciso fazer é negociar bem, para que eu não tenha algum prejuízo

Avaliar o retorno que este investimento pode trazer para você, considerando a realidade do seu pequeno negócio, é ter responsabilidade financeira. Com ela, Marlon explica, é possível pensar em novas e bem-sucedidas perspectivas.

Manter as tradicionais formas de comercializar é que pode trazer riscos. Portanto, inovar em negócios rurais é possível e desejável, desde que mediante uma análise profissional dos novos mercados, da colocação (divulgação) de seu produto e dos recursos e capacitações necessários.

Outro ponto que Marlon destaca são os investimentos em tecnologias e gestão que permitam aos produtores criar novos canais de comercialização (com o uso da Internet, por exemplo), importantes e necessários no momento. A capacitação de pessoas, sejam os próprios produtores, empresários ou colaboradores, também é um modo de enfrentar o momento atual, mas pensando a longo prazo.

Pense no coletivo

Vivemos em sociedade. Por isso, cada ação individual influencia, de alguma forma, também no coletivo.

O agronegócio e suas cadeias produtivas também funcionam de forma coletiva, em cooperação um com o outro. Neste momento, esta colaboração ganha ainda mais força.

Para Marlon, uma das principais alternativas aos produtores rurais de pequena e média produção é a promoção de atividades em conjunto, seja por meio de associações, núcleos de comercialização ou cooperativas.

“Esta não é uma exigência por causa da pandemia. Trata-se de uma necessidade que vem da condição em que o agropecuarista produz e comercializa seu produto. Sempre há a necessidade que muitos produtores abasteçam poucas indústrias – logo, a união deles favorece a redução dos preços de insumos, o gerenciamento de processos de produção e transporte, e a melhor barganha na venda de seus produtos”.

Ao acreditar e investir na cooperação, os produtores com pequenas e médias produções, para Marlon, podem alcançar mais sucesso nas operações que envolvam seus negócios. “A aquisição conjunta de serviços profissionais de gestão da produção, da logística e da comercialização de seus produtos geram oportunidades não imaginadas”, destaca.

Para as pequenas empresas do agronegócio, a colaboração também é essencial. Para Wendy, ser criativo e pensar em parcerias também podem dar bons resultados, ajudando-o a complementar serviços e a conquistar novos clientes. Já parou para pensar nisso?

Imagem para post do blog AgriQ Receituário Agronômico, com citação da professora Wendy Carraro. O tema do post é "Pequenos negócios no agronegócio: como se organizar durante a pandemia"

Não hesite em pedir ajuda

Planejamento e gestão podem parecer tarefas simples mas, na prática, envolvem uma série de fatores.

Mas, por onde começar? Como fazer isto em um cenário tão incerto?

Para Wendy, é preciso, acima de tudo, de organização.

“A empresa não pode se reorganizar de qualquer jeito. Tem que ter um método, uma ordem de acontecimentos. Será necessário rever quais são seus objetivos, os recursos que ela têm disponível, como estão suas contas, suas possíveis alternativas se ela pode oferecer um serviço ou produto novo. Então, é importante buscar um suporte ou apoio. São mais pessoas pensando juntas, que podem contribuir com novas ideias, que nem estávamos imaginando dentro do raio que estamos. 

Para ajudar você a encontrar soluções para o seu negócio, existem diversas iniciativas que oferecem consultorias gratuitas, nas mais variadas áreas.

Uma delas é o Sebrae. De acordo com Portugal, a instituição tem procurado se organizar e se adequar ao contexto atual, de forma a atender os diferentes setores com que trabalha — incluindo o agronegócio.

Nós estamos oferecendo consultorias e orientações através dos canais de atendimento e do nosso portal, como o Converse online com o Sebrae. No nosso site, inclusive, há uma página especial sobre o novo coronavírus, com cursos e capacitações. Todos nós estamos à disposição daquele que nos procura para ajudá-lo com essas informações. Se não soubermos a resposta, vamos procurá-la com os nossos parceiros. 

Para demandas mais complexas, o Sebrae oferece consultoria online, com atendimentos de uma hora de duração nas áreas de finanças, marketing, planejamento e tributação.

Além disso, a entidade também possui o Sebraetec, que disponibiliza serviços tecnológicos para pequenos negócios em todo o território brasileiro. Dentre as soluções oferecidas, estão consultoria tecnológica, serviços metrológicos, avaliação de conformidade (certificação) e prototipagem.

Outro projeto voltado para pequenos negócios é o SOS PME – Rede de Assessoria Empresarial. A iniciativa, da qual Wendy faz parte, junto com outros professores da Escola de Administração da UFRG, procura auxiliar pequenas e médias empresas a enfrentar a crise causada pela pandemia.

Com assessorias gratuitas, o projeto busca atender as empresas via web conferência, de forma a encontrar alternativas e soluções para as demandas e necessidades de cada negócio. A iniciativa está disponível para todo o Brasil e para participar, basta clicar neste link.

Quem também oferece mentorias gratuitas é o Google! Voltado especialmente para pequenas empresas, o Cresça com o Google busca orientar sobre os seguintes temas: marketing digital, vendas on-line, finanças e contabilidade, apoio jurídico, inteligência emocional para empreendedores e inovação e modelos de negócio.

As mentorias do Cresça com o Google devem ser pré-agendadas, com base em um dos temas abordados. Para participar, é preciso ter, além de acesso a internet e aparelho com webcam e microfone, uma conta no Google.

Invista no aprendizado

Você já deve ter ouvido: educação é um investimento. Se tem algo que ninguém pode tirar de você é seu conhecimento.

Hoje, é muito fácil encontrar na internet uma infinidade de conteúdos e cursos, gratuitos e pagos, que podem ajudá-lo a aprender mais sobre inúmeros assuntos — inclusive, sobre planejamento e gestão.

O Sebrae é um deles. A plataforma oferece uma série de cursos gratuitos em diferentes áreas, como vendas, empreendedorismo, finanças e muitas outras. O melhor é que há opções com duração mais curta — alguns têm apenas 4 horas! — e outros mais longos, dependendo do assunto.

Se você quer conhecimentos mais voltados ao agronegócio, a Plantar Educação é uma opção. Iniciativa da Siagri,  Com conteúdos interativos e pedagógicos sobre rotinas e processos das soluções oferecidas pela empresa, a edtech possuir cursos que podem ser acessados pelo computador ou smartphone.

Também na área do agronegócio, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) possui mais de 60 cursos gratuitos para o meio rural, com direito a certificado de conclusão.

Quanto a finanças, a professora Wendy, que é coordenadora do projeto de extensão Educação Financeira para todos e para toda vida  tem uma curadoria especial de conteúdos na plataforma Padlet. Com dicas de gestão financeira para pequenos negócios e, também, a nível pessoal, lá você encontra e-books, modelos de planilha, sugestões de aplicativos úteis, cursos e muito mais.

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Julie Tsukada

Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.

2 Comentário

  • Poliana Fernandes
    28/05/2020

    Parabéns pela matéria! Participações e conteúdo muito agregador, trazendo importantes visões, dicas e orientações.

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    • agriq
      28/05/2020

      Que bom que gostou, Poliana! Esperamos que este material te ajude 🙂 Abraços!

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