Caruru gigante (Amaranthus retroflexus) | Imagem de destaque para artigo no Blog AgriQ sobre resistência de plantas daninhas a herbicidas | Créditos: Shutterstock

Resistência de plantas daninhas a herbicidas: saiba como evitar

Resistência de plantas daninhas a herbicidas: saiba como evitar

A resistência de plantas daninhas a herbicidas nada mais é do que a capacidade que algumas plantas possuem de sobreviver e reproduzir após serem expostas a uma dose de herbicida geralmente letal para a maioria da espécie.

Neste artigo, vamos explicar como as plantas daninhas desenvolvem a resistência a herbicida e apresentar dicas de como evitar esse fenômeno.

Acompanhe a seguir!

O que é resistência de plantas daninhas a herbicidas?

Segundo a Embrapa, a resistência de plantas daninhas é definida como a capacidade herdada de uma planta daninha de sobreviver e deixar descendentes após a exposição a uma dose normalmente letal de herbicida (dose da bula) para a população natural.

Na prática, a resistência acontece de forma natural devido à evolução das plantas daninhas e sua adaptação em relação às alterações ambientais e às tecnologias agrícolas.

Além disso, podemos afirmar que este fenômeno é resultado de:

  • Mutações que aumentam a variabilidade genética das plantas daninhas;
  • Pressão de seleção causada pelo uso intensivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação;
  • Cultivo frequente de grãos sem rotação de culturas;
  • Presença de genes pré-existentes.

Como uma planta daninha desenvolve resistência a herbicidas?

A princípio, uma planta daninha se torna resistente a um herbicida quando consegue sobreviver à dose letal do produto para a espécie e transmite hereditariamente essa resistência.

Esse processo ocorre devido às mutações, que aumentam a variabilidade genética das plantas daninhas para garantir a sobrevivência da espécie.

Dessa forma, quando surge naturalmente uma planta daninha com mutação na lavoura, ela se torna resistente a um herbicida. Isso significa que conforme o produto é aplicado, às plantas suscetíveis morrem enquanto as resistentes sobrevivem e geram descendentes.

Sendo assim, as plantas daninhas desenvolvem resistência a herbicidas por meio de seleção natural, que ocorre quando o mesmo herbicida é aplicado repetidamente na mesma área.

Contudo, para ser considerada resistente a um herbicida, a planta deve:

  • Ter histórico de sensibilidade;
  • Transmitir hereditariamente a resistência;
  • Sobreviver à dose de bula do produto indicada para o controle da espécie.

Por quais mecanismos as plantas daninhas desenvolvem resistência a herbicidas?

As plantas daninhas podem desenvolver resistência a herbicidas por meio de diversos mecanismos, como:

  • Alteração da conformação do sítio de ação do herbicida, impedindo a ligação da molécula ao local de ação;
  • Amplificação gênica, que aumenta o número de cópias do DNA que codifica a expressão gênica de síntese da enzima relacionada à ação do herbicida;
  • Metabolização ou desintoxicação do herbicida, que transforma a molécula em compostos não tóxicos;
  • Absorção foliar e translocação diferencial do herbicida, que retém o produto nas folhas tratadas;
  • Sequestro ou compartimentalização do herbicida, que aprisiona as moléculas do produto em locais onde não tenham contato com o sítio de ação.

Quais são os tipos de resistência?

As plantas daninhas podem apresentar diferentes tipos de resistência a herbicidas, como:

Simples

Na resistência simples, a planta daninha é resistente a um único herbicida. Exemplo: o azevém é resistente ao glifosato.

Cruzada

A resistência cruzada ocorre quando a planta é resistente a dois ou mais herbicidas, porém apenas por um único mecanismo. Exemplo: o caruru-gigante é resistente a atrazine e prometryn.

Múltipla

Na resistência múltipla, a planta é resistente a dois ou mais herbicidas, mas por mecanismos de ação diferentes. Exemplo: o azevém pode ser resistente ao glifosato e ALS, ou ao glifosato e ACCase.

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Quais são os fatores que afetam a evolução da resistência de herbicida?

A evolução da resistência de plantas daninhas a herbicidas é afetada por fatores genéticos, bioecológicos e agronômicos.

Confira a seguir alguns fatores que podem favorecer o surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas:

  • Pressão de seleção: dose inadequada ou número de aplicações;
  • Características das plantas daninhas: ciclo curto, elevada produção de sementes, grande diversidade genética;
  • Características dos herbicidas: alta ou baixa eficiência para a espécie-alvo, sem efeito residual;
  • Práticas culturais: uso exclusivo de herbicidas com mesmo mecanismo de ação e monocultivo por vários anos sucessivos.

Resistência de plantas daninhas no Brasil

Os primeiros relatos de resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil aconteceram em 1993, com as espécies Bidens pilosa (picão-preto) e Euphorbia heterophylla (leiteiro). Ambas eram resistentes a herbicidas inibidores da enzima acetolactato-sintase (ALS).

Atualmente, o número de relatos de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil cresce cada vez mais. Segundo a Associação Brasileira de Ação a Resistência de Plantas Daninhas (HRAC-BR), o número de relatos no país abrange 53 casos, envolvendo 28 espécies e nove mecanismos de ação.

Algumas plantas daninhas resistentes a herbicidas são:

Buva

Buva (Conyza sumatrensis) (Créditos: Wong Gunkid | Shutterstock)
(Créditos: Wong Gunkid | Shutterstock)

Existem três espécies de buva no Brasil, todas resistentes a herbicidas. A Conyza sumatrensis é resistente a herbicidas da ALS, do fotossistema I (como paraquat) e inibidores da PROTOX.

Capim-pé-de-galinha

Capim-pé-de-galinha (Eulenise Indica) (Créditos: Shutterstock)
(Créditos-Shutterstock)

O primeiro relato de resistência do capim-pé-de-galinha (Eulenise Indica) ao herbicida glifosato dessa espécie no Brasil foi registrado em 2016, sendo que já foi relatado também resistência aos inibidores da ACCase.

Caruru-palmeri

Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) (Créditos: Fernanda Santie Ikeda | Shutterstock)
(Créditos: Fernanda Santie Ikeda | Embrapa Agrossilvopasteril)

O primeiro relato de resistência dessa espécie ocorreu em 2015. Essa planta daninha é resistente ao glifosato e também aos inibidores da ALS.

Como evitar o desenvolvimento da resistência de plantas daninhas a herbicidas?

Para evitar o desenvolvimento de resistência de plantas daninhas a herbicidas, o recomendado é seguir as dicas abaixo:

  • Confira o histórico de resistência da área e região;
  • Utilize herbicidas com diferentes mecanismos de ação;
  • Limite o número de aplicações de um mesmo herbicida;
  • Aplique herbicidas conforme a dose recomendada e o estágio de desenvolvimento da planta daninha;
  • Faça rotação de culturas e adubação verde;
  • Utilize sementes certificadas;
  • Realize a limpeza correta de máquinas ou implementos antes de utilizá-los em novas áreas;
  • Priorize o controle na entressafra;
  • Realize as aplicações sequenciais corretamente.

Conclusão

Como vimos, a resistência de plantas daninhas a herbicidas é um fenômeno que ocorre quando algumas plantas sobrevivem e se reproduzem após serem expostas a uma dose de herbicida que seria letal para a maioria da espécie.

Isso pode acontecer devido a uma série de fatores, como o uso repetitivo de um mesmo herbicida, dose inadequada e mutações ou presença de genes pré-existentes.

Por isso, é importante ficar atento e conhecer o histórico da área de plantio para adotar métodos de controle e, assim, evitar o desenvolvimento de resistência das plantas daninhas presentes na lavoura.

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Gostou desse conteúdo? Então, aproveite e leia nosso artigo sobre controle de plantas daninhas.

Rafaella Aires

Formada em Jornalismo, pós-graduada em Marketing e especialista em Comunicação Digital, atuo como Analista de Conteúdo no AgriQ Receituário Agronômico.

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