Os herbicidas são um dos produtos mais recomendados para o controle das plantas daninhas nas lavouras.
Com várias versões disponíveis no mercado, a aplicação desses agroquímicos requer cuidado e responsabilidade, já que também podem afetar as culturas ou gerar resistência das plantas daninhas aos produtos.
Desse modo, é essencial entender como o mecanismo de ação de cada tipo herbicida funciona para, assim, aplicá-lo da melhor forma na lavoura.
Pensando nisso, preparamos um artigo que servirá como um guia básico com tudo o que você precisa saber sobre herbicidas. Nos acompanhe!
O que são herbicidas?
Os herbicidas são substâncias químicas ou agentes biológicos — micro ou macroorganismos vivos — que matam ou suprimem o crescimento de espécies específicas de plantas.
A função dos herbicidas nas lavouras é como um método de controle para plantas daninhas. Estas espécies competem com as culturas por água, luz e nutrientes o que, consequentemente, prejudica o desenvolvimento dos vegetais.
Além disso, as plantas daninhas também podem ser hospedeiras de pragas e organismos que podem causar doenças nos cultivares. Doente, a lavoura tem seu desenvolvimento prejudicado, o que afeta sua produção e leva a um maior controle químico, com a aplicação de agrotóxicos.
Quais são os tipos de herbicidas?
A classificação dos herbicidas em tipos pode ser feita considerando diversas características, desde o comportamento das substâncias até ao modo de aplicação.
Aqui, vamos falar sobre as quatro principais formas de classificar os herbicidas:
Confira mais detalhes sobre cada uma das classificações abaixo:
Seletividade
Quanto à seletividade, a classificação do herbicida se dá por meio de como ele afeta a planta daninha.
Geralmente, a seletividade costuma ser relativa. Fatores como o estádio de desenvolvimento das plantas, as condições climáticas no momento da aplicação, a quantidade de dose aplicada, entre outras questões, influenciam nos efeitos que os herbicidas possuem sobre as plantas daninhas e as espécies cultivadas.
Dessa forma, a classificação por seletividade conta com duas categorias principais:
Herbicidas seletivos
São aqueles que matam ou reprimem o crescimento das plantas daninhas. O efeito das substâncias não causam efeitos prejudiciais às espécies de interesse além de um nível que elas não conseguem se recuperar.
Alguns exemplos de herbicidas seletivos são o trifluralin, para o controle crescimento de gramíneas, e o lactofen, que limita o desenvolvimento de folhas largas.
Nesta classificação, ainda existem subcategorias de seletividade. São elas:
- Genuína (fisiológica ou biológica): capacidade da planta de metabolizar o herbicida em compostos pouco ou não tóxicos;
- Adquirida (transgenia): modificação genética nas plantas que as possibilita adquirir tolerância a determinado herbicida.
- Toponômica (de posição): o herbicida não entra em contato com a cultura cultivada, apenas as sementes ou as plantas daninhas. Isto é possível porque neste tipo de seletividade, a aplicação do produto acontece diretamente no solo ou nas plantas daninhas, após o plantio das espécies comerciais. O produto permanecerá apenas na camada superficial do solo e, dessa forma, não afetará a cultura.
Herbicidas não-seletivos
No caso dos herbicidas não-seletivos, as substâncias possuem amplo espectro de ação — ou seja, além de matar as plantas daninhas, os produtos também podem afetar, de forma severa, a cultura da lavoura.
Época de aplicação
Em sua maioria, a aplicação dos herbicidas nas lavouras deve ocorrer em épocas específicas. Assim, é possível maximizar a seletividade das substâncias e obter melhores resultados, com menos produto e, consequentemente, menos riscos prejudiciais às culturas e ao meio ambiente.
Sendo assim, outra forma de classificar os herbicidas é quanto às épocas de aplicação. De acordo com o livro Herbicidas, do pesquisador e docente da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP) Leonardo Bianco de Carvalho, esta divisão pode ser feita em relação à:
- Cultura, com a classificação dos herbicidas em dois momentos: pré-plantio e pós-plantio;
- Plantas daninhas e à cultura, com a divisão em quatro momentos: pré-emergência e pós-emergência da cultura e pré-emergência e pós-emergência das plantas daninhas.
Apesar da recomendação específica para uma época de aplicação, há também herbicidas que podem ser utilizados na pré e pós-emergência.
Confira mais sobre as categorias abaixo:
Pré-plantio (PP)
Nesta época de aplicação, a aplicação dos herbicidas tem o objetivo de dessecar as plantas daninhas antes do plantio da cultura principal.
Dessa forma, a pulverização dos produtos classificados nesta categoria ocorre após a emergência das culturas infestantes.
Pré-plantio incorporado (PPI)
A aplicação desses herbicidas ocorre diretamente no solo. Por isso, precisam posteriormente de incorporação mecânica ou por meio de irrigação, para que as substâncias sejam absorvidas e impeçam o crescimento das culturas infestantes.
Como a utilização desses herbicidas é feita antes dessas espécies se desenvolverem, os produtos desta época também se enquadram nas categorias de pré-emergência das plantas daninhas.
Pré-emergência (PRE)
A aplicação destes produtos acontece na época de pré-emergência das plantas daninhas, mas após a semeadura ou plantio da espécie de interesse. Assim, também são considerados herbicidas de pós-plantio da cultura.
Para a aplicação desses defensivos, é necessário preparo solo e garantir que há um médio-bom teor de umidade, proveniente da água da chuva ou de irrigação.
No geral, os herbicidas de pré-emergência atuam nos processos de germinação de sementes ou no crescimento radicular (raiz) das plantas daninhas.
Pós-emergência (POS)
Neste caso, em que a pulverização ocorre após a emergência das plantas daninhas e o plantio da cultura, a aplicação do herbicida é voltada à parte foliar das espécies infestantes. Desse modo, é importante que acultura da lavoura tenha boa tolerância à exposição direta do produto.
Os herbicidas de pós-emergência ainda podem ser divididos em duas categorias:
- Pós-emergência em área total: são herbicidas seletivos à cultura, de seletividade genuína ou adquirida, que podem ser aplicados com pulverizador sem proteção na barra;
- Pós-emergência dirigida: herbicidas não-seletivos, com aplicações nas entrelinhas da lavoura. Neste caso, a pulverização não necessita de proteção na barra.
Translocação
Nesta classificação, os herbicidas são categorizados quanto à translocação. Este termo se refere ao modo como ocorre o deslocamento da substância ao interior da planta.
Existem, então, dois tipos de herbicidas de translocação:
Herbicidas tópicos (ou de contato)
Estes defensivos não se translocam ou, se o fazem, é de forma limitada.
Dessa forma, os danos que os herbicidas tópicos causam às espécies daninhas, como já denuncia o nome, são apenas nas partes que os produtos entram em contato direto com os tecidos das plantas.
Como a mobilização desses herbicidas na planta é baixa, a pulverização necessita ter uma boa cobertura. O efeito, no entanto, é rápido e costuma levar poucas horas.
Herbicidas sistêmicos
São herbicidas com alta capacidade de translocação dentro da planta daninha. O local de ação do produto, neste caso, pode ocorrer tanto próximo como longe do local em que o produto foi aplicado.
O deslocamento dos herbicidas sistêmicos pode ocorrer pelo xilema, tecido que transporta a água (seiva bruta); pelo floema, também um tecido vegetal, que carrega as substâncias orgânicas (seiva elaborada); ou, ainda, pelos dois.
Antes da aplicação de herbicidas sistêmicos, é importante observar as condições de clima e umidade do solo, que influenciam no resultado final.
Outro fator a se prestar atenção é a pluviosidade, já que as chuvas logo após a aplicação podem afetar a translocação de produtos com absorção lenta.
Mecanismo de ação
Nesta categoria, a divisão dos herbicidas se baseia na forma como ocorre o primeiro evento metabólico das plantas após a aplicação do produto — o mecanismo de ação.
Para compreender melhor como ocorre essa classificação, vamos primeiro entender o que é modo de ação.
Quando falamos em modo de ação, nos referimos ao conjunto de eventos metabólicos decorrentes da aplicação dos herbicidas na planta.
Ou seja — em outras palavras, o termo diz respeito a todo o comportamento do herbicida na espécie daninha, desde o momento do contato durante a aplicação até a expressão final do seu efeito tóxico.
Inserido no modo de ação do herbicida está, então, o mecanismo de ação. Apesar de mais complexa, por envolver um conhecimento mais profundo sobre química, a característica é uma das preferidas para classificar os herbicidas por envolver diversos fatores: condições ambientais, seletividade e o próprio comportamento dos herbicidas nas plantas e no ambiente.
Grupos e categorias dos herbicidas quanto ao mecanismo de ação
Assim, de acordo com o mecanismo de ação, podemos dividir os herbicidas em dois grupos principais:
- Enzimático: ação do herbicida ocorre diretamente sobre alguma enzima do metabolismo da planta;
- Não-enzimático: ocorre sobre algum evento metabólico da planta, mas sem ligação com uma enzima específica.
A partir delas, podemos especificar ainda mais a classificação dos herbicidas. Confira abaixo:
Enzimáticos
- ACCase: inibem a ação da enzima acetilcoenzima A carboxilase (ACCase);
- ALS ou AHAS: inibem a ação da enzima acetolactato sintase (ALS) que também pode receber o nome de acetohidroxi ácido sintase (AHAS), dependendo da reação;
- Caroteno: inibe duas enzimas, uma conhecida (4-HPPD) e outra ainda desconhecida. São subdivididos em dois grupos:
- Inibidores da HPPD: inibem a ação da enzima 4-hidroxifenil-piruvato dioxigenase (4-HPPD);
- Inibidores da síntese de carotenoides com ação em enzima desconhecida: a ação é semelhante aos herbicidas inibidores da HPPD;
- EPSPs: inibem a ação da enzima 5-enolpiruvil chiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs);
- Glutamina GS: inibem a ação da enzima glutamina sintetase (GS);
- PROTOX (ou PPO): inibem a ação da enzima protoporfirinogênio oxidase (PROTOX ou PPO)
Não-enzimáticos
- Auxina: simula uma auxina sintética e causa um desequilíbrio deste hormônio na planta, que é responsável pelo crescimento apical da planta.
- Biossíntese de lipídeos (não-ACCase): inibem a síntese de lipídeos, proteínas, isoprenoides e flavonoides. No entanto, o mecanismo exato de ação não é conhecid
- Divisão celular: inibem a divisão celular, sendo divididos em dois grupos:
- Inibidores do arranjo de microtúbulos: impedem a formação das fibras dos microtúbulos e a movimentação dos cromossomos, que resulta na interrupção da divisão celular na Prófase;
- Inibidores da biossíntese de ácidos graxos de cadeia muito longa: afetam a síntese proteica e inibem a divisão celular;
- FSI: inibemo transporte de elétrons no fotossistema I;
- FSII: inibem o transporte de elétrons no fotossistema II;
Confira abaixo os herbicidas mais comuns divididos de acordo com o mecanismo de ação:
Cuidados na aplicação dos herbicidas
A aplicação dos herbicidas, como vimos acima, depende do tipo do produto.
Além disso, na hora de recomendar o uso do herbicida, o profissional deve considerar outras práticas agrícolas a fim de prevenir que as plantas daninhas adquiram resistência às substâncias. Algumas delas são:
- Rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação;
- Aplicações sequenciais;
- Uso de herbicidas de baixo residual e amplo espectro, reduzindo a pressão de seleção;
- Rotação de culturas e sistemas de cultivo;
- Realização de monitoramento e Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Além disso, como outros defensivos agrícolas, o uso do herbicida deve seguir as recomendações gerais para a aplicação desse tipo de produto, como, conforme está disponível no receituário agronômico.
Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.
1 Comentário
Norey
06/12/2023Muito esclarecedor.