Você sabia que o trigo é o segundo cereal mais produzido no mundo?
Atrás apenas do milho, a produção mundial do cereal em 2020 foi de 773 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Neste cenário, o Brasil é o 15º maior produtor do grão, com previsão estimada de 6,3 milhões de toneladas de trigo para a safra 2020/21.
Por ser um alimento básico, utilizado na produção de diversos produtos, o trigo é visto como uma cultura rentável e economicamente estável.
Pensando nisso, preparamos este artigo com os principais fatores que afetam o desenvolvimento do trigo, para você que está pensando em investir nesse cereal.
Continue a leitura e tire todas as suas dúvidas sobre o assunto!
Qual é a origem do trigo?
O trigo é uma cultura originária do Oriente Médio (Ásia). Parte da família das gramíneas, o trigo é uma planta do gênero Triticum. Suas principais espécies de cultivo são Triticum monococcum, Triticum durum e Triticum aestivum.
Inicialmente, o consumo de trigo era apenas na forma de grãos, em uma espécie de papa acompanhada de peixes e frutas. No entanto, por volta de 4.000 a.C., os egípcios descobriram o processo de fermentação, que revolucionaria o uso do trigo na alimentação humana. Foi assim, por exemplo, que eles começaram a produzir o pão.
Hoje, o trigo é produzido em todo o mundo. O consumo mundial do grão, de acordo com a USDA, chegou a 769 milhões de toneladas em 2020.
Brasil
No Brasil, o cultivo do trigo iniciaria no século XVI, com as primeiras lavouras localizadas na capitania de São Vicente.
O grão só ganharia importância econômica, no entanto, em meados do século XVII, com cultivos em São Paulo e Rio Grande do Sul. A produção se manteve sem grandes mudanças até o século XIX, quando a cultura quase desapareceu no país devido a disseminação da ferrugem. Já no século XX, a produtividade do grão aumentaria com a concessão de incentivos financeiros.
Atualmente, a produção do trigo no país se concentra nas regiões Sul, Sudesde e Centro-Oeste. Entre os estados brasileiros que produzem o cereal, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo são os maiores destaques.
Qual é o tipo de trigo plantado no Brasil?

Planta de trigo da espécie Triticum aestivum L. (Foto: Wikimedia Commons)
O trigo cultivado no Brasil é o da espécie Triticum aestivum L. Entre suas características, estão:
- Medida de 0,5 a 1,5m de altura;
- Raízes em forma de cabeleira;
- Caule oco e reto (colmo);
- Cerca de 6 a 9 folhas estreitas e compridas;
- Flores em grupo de 3 a 5 formam espiguetas que se agrupam em número de 15 a 20, formando espigas.
Como funciona o ciclo da cultura de trigo?
O ciclo da cultura de trigo é dividido em cinco fases:
Plântula: fase em que ocorre a germinação da semente, isto é, a emergência da planta na superfície (5 a 7 dias). Após a emergência, dá-se a fase de plântula, com o aparecimento das três primeiras folhas verdadeiras (12 a 16 dias).
Perfilhamento: abrem-se as folhas e surgem os perfilhos (7 a 8 unidades). Esta fase dura 15 a 17 dias.
Alongamento: nessa fase, há o aparecimento do primeiro nó do colmo. A planta também cresce e aparece a folha bandeira, a última da planta. Esta fase dura 15 a 18 dias, sendo que no final dá-se o emborrachamento..
Espigamento: emergência completa da espiga, floração, frutificação e início de enchimento dos grãos. Dura entre 12 e 16 dias.
Maturação: término de enchimento dos grãos, maturação do grão, folhas e espiga secam. Esta fase dura 30 a 40 dias.

Escala Feekes-Large de crescimento e desenvolvimento de trigo e correspondente formação dos componentes do rendimento de grãos. (Ilustração: Embrapa Soja)
Quais fatores afetam o desenvolvimento do trigo?
Entenda a seguir o que você precisa fazer para garantir o bom desenvolvimento, rendimento e produtividade da sua lavoura de trigo.
Época de semeadura
A época de semeadura do trigo pode variar conforme o município. Por isso, o recomendado é considerar o zoneamento para a cultura.
Para verificar o Zoneamento Agrícolas de Risco Climático (ZARC) para o trigo em 2020/2021, acesse o site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o aplicativo Zarc Plantio Certo (disponível para Android ou iOS) ou a plataforma Painel de Indicação de Riscos.
Arranjo das plantas
O arranjo da cultura de trigo consiste em como as plantas devem ser distribuídas, considerando a combinação de populações de plantas com o espaçamento entre linhas.
Nesse sentido, a área pode ser modificada pela variação desses dois fatores, o que define a área disponível para cada planta de trigo na lavoura. Veja na imagem abaixo!

Representação esquemática da área ocupada por cada planta de trigo em diferentes arranjos (combinação de populações de plantas com espaçamento entre linhas). (Ilustração: João Leonardo Fernandes Pires / Embrapa)
O ajuste correto pode possibilitar o maior aproveitamento da radiação solar incidente (que será transformada em assimilados e, posteriormente, em grãos), maior competição com plantas daninhas (interespecífica), menor competição entre as plantas de trigo (intraespecífica) e melhor aproveitamento da adubação aplicada.
Entretanto, a falta ou o excesso de plantas pode comprometer negativamente o rendimento de grãos.
Densidade de semeadura
A densidade a ser adotada na cultura de trigo deve considerar a indicação para cada cultivar e região produtora, conforme indicação técnica das instituições de pesquisa e/ou dos obtentores das cultivares.
Segundo a Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, a densidade de semeadura indicada é:
Rio Grande do Sul e Santa Catarina: as recomendações são por cultivares:
- Semitardias e tardias: 250 sementes viáveis/m²;
- Precoces e médias: 300 a 330 sementes viáveis/m²;
- Tardias: quando utilizadas em duplo propósito, a densidade deve ser de 330 a 400 sementes viáveis/m².
Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo: densidade de 200 a 400 sementes viáveis/m², em função do porte das cultivares e, algumas vezes, dos tipos de clima e solo.
Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Distrito Federal: a densidade para trigo irrigado é de 270 a 350 sementes viáveis/m2 e para trigo de sequeiro, de 350 a 450 sementes viáveis/m².
Espaçamento e profundidade de semeadura
Em relação ao espaçamento, recomenda-se uma distância entre linhas de 17 cm. O máximo é de 20 cm.
Já a profundidade de semeadura, por sua vez, deve variar de 2 cm a 5 cm.
Solo
Assim como os demais fatores, a escolha do solo utilizado no plantio também é fundamental.
Sendo assim, considere locais com textura média (argilo arenosos), profundos, drenados, férteis, pH 6,0, saturação de bases entre 40 e 60%, em áreas planas ou com pouco declive.
Você também deve evitar solos cascalhentos e áreas sujeitas a encharcamento. Já em solos do cerrado, será necessário corrigir a acidez e praticar adubação.
No mais, prepare o solo com pelo menos um mês de antecedência do processo de semeadura. Caso outra cultura tenha sido plantada anteriormente, limpe o solo com arado para moer os resíduos e, assim, possibilitar que eles se decomponham e não interfiram no crescimento do trigo.
Correção e adubação
Quando se trata de nutrição, o trigo é relativamente exigente.
Desse modo, a cultura necessita de elementos minerais como Nitrogênio (N), Fósforo (P²O²), Potássio (K²0), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Enxofre (S), Boro (B), Cloro (CI), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo) e Zinco (Zn). Dentre esses, os mais requeridos são o Nitrogênio e o Fósforo.
A partir dos resultados e recomendações da análise de solos, têm-se indicações para uso de corretivos de solo (calcário dolomítico ou magnesiano) e fertilizantes diversos.
Em geral, o uso do calcário (metade da dose) ocorre antes da aração e a segunda metade, antes da primeira gradagem. Primeiramente, o corretivo é aplicado a lanço sobre o solo, de maneira uniforme. Depois, o produto é incorporado a pelo menos 20 cm de profundidade.
O ideal é que essa operação seja realizada com antecedência mínima de 60 dias ao plantio.
Normalmente, o adubo é aplicado ao solo, a lanço, pouco antes do plantio, sofrendo leve incorporação.
Irrigação
Geralmente, a exigência de água pelo cultivo do trigo, ao longo do ciclo, depende do seu potencial de produção.
Em média, produz-se 8 kg de grãos por milímetro de lâmina de água aplicado. Dessa forma, para obter uma produtividade de 4.800 Kg/ha de grãos, por exemplo, será necessário uma lâmina de 600 mm de água ao longo do ciclo;
Agora, quanto aos métodos de irrigação para pequenas e médias áreas, as sugestões são:
- Irrigação por aspersão: com conjunto motobomba, tubos e aspersores ou com mangueiras e aspersores;
- Irrigação por superfície: com sulcos em contorno, paralelos às linhas (fileiras) de trigo, tubos janelados levam a água aos sulcos.
Vale destacar que a irrigação do trigo deve começar logo após o plantio e ser estendida até o 102º dia após o mesmo. Assim, ao longo do ciclo, teremos um total de 24 aplicações de água.
Controle de pragas e doenças
Outro fator de extrema importância é o controle de pragas e doenças. Veja alguns exemplos!
Pragas
Normalmente, a praga mais comum na cultura de trigo é a Broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo ou por Elasmopalpus lignosellus, seu nome científico.
A praga costuma surgir 30 dias após a emergência do trigo. Para combatê-la, orienta-se utilizar herbicidas à base de:
- Pendimethalin, para gramíneas, em pré-emergência;
- Bentazon ou 2,4 D-Amina ou 2,4D – Ester, para daninhas de folhas largas, em pós-emergência, durante o perfilhamento.
Doenças
Por outro lado, umas das doenças mais comuns nessa cultura é a helmintosporiose (mancha-foliar do trigo), causada pelos fungos Bipolaris sorokiniana (Sacc.in Sorok) Schoem (forma assexuada) e Cochliobolus sativus (Ito e Kurib) Drechs.ex.Dast (forma sexuada).
A helmintosporiose pode aparecer em qualquer fase do ciclo do trigo. Geralmente, os fungos se estabelecem nas folhas, colmo, espigas, grãos e sistema radicular.
Entre os sintomas que a doença deixa nas plantas, estão:
- Manchas alongadas marrom-escuras nas folhas, que se expandem e unem de modo a tomar toda a lâmina foliar;
- Colmo e espiga lesões marrom-escuras;
- Mancha escura nos grãos, perto do embrião (ponta-preta);
- Mancha e podridão nas raízes.
O ataque da helmintospopriose pode reduzir a produção de trigo em 50%. Por isso, para controlar e evitar sua ocorrência, será necessário investir no tratamento de sementes com fungicidas, além de praticar a rotação de culturas e pulverizações aéreas com fungicidas à base de Tebuconozale, Procloraz, Propiconazole.
No mais, também existem doenças de ferrugem que atacam folhas/colmos. Neste caso, recomenda-se a aplicação de fungicidas.
Colheita
A colheita do trigo deve ser feita entre 110 e 120 dias após o plantio.
Para reconhecer o momento ideal, observe se a planta atende as seguintes características:
- Coloração amarelada (típica de palha);
- Espiga está começando a dobrar;
- Grãos de trigo estão duros e resistentes à unha.
Conclusão
Com produção e consumo crescentes, o trigo se mantém como uma das culturas de maior importância no mercado mundial.
O Brasil, 15º maior produtor de trigo no mundo, tem a produção localizada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Por aqui, cultivamos a espécieTriticum aestivum L. Neste artigo, você pôde conhecer as principais características da planta.
Inicialmente, para lhe orientar em relação ao cultivo do trigo, lhe apresentamos o ciclo de vida do grão, que é dividio em cinco fases. Em seguida, apresentamos os principais fatores que influenciam no desenvolvimento e produtividade da cultura.
Esperamos que nosso conteúdo tenha sido útil para você!
Agora que você conhece mais sobre o trigo, que tal ler nosso artigo sobre o cultivo de feijão?
Até a próxima!

Formada em Jornalismo, pós-graduada em Marketing e especialista em Comunicação Digital, atuo como Analista de Conteúdo no AgriQ Receituário Agronômico.
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