Você conhece os defensivos biológicos?
Com um mercado crescente, que busca investir e formular novos produtos nessa categoria, esses insumos ganham cada vez mais importância na agricultura moderna,
No campo científico, defensivos biológicos também ganham força, com o desenvolvimento de novos estudos sobre os produtos.
Neste artigo, explicamos para você o que são esses produtos e como eles são capazes de reduzir o uso de produtos químicos no campo.
Vem com a gente!
O que são defensivos biológicos?
Os defensivos biológicos (ou biodefensivos) são produtos agrícolas desenvolvidos a partir de um ativo biológico, ingrediente ativo com origem natural. O uso desses insumos têm o objetivo de eliminar alvos (doenças ou pragas) que estejam prejudicando a lavoura, mas sem agredir o meio ambiente.
A partir do ativo biológico, que podem ser organismos ou substâncias, empresas e pesquisadores desenvolvem formulações biológicas para a comercialização desse ingrediente ativo. Posteriormente, essas formulações são validadas frente a doenças e pragas encontradas na lavoura, com o objetivo de eliminá-las sem agredir o meio ambiente.
O produtor rural pode utilizar os defensivos biológicos na produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas. As empresas que produzem esses insumos devem informar todos os dados referentes à praticabilidade da tecnologia proposta pelo ativo biológico.
Como é o mercado de defensivos biológicos no Brasil?
Até 2030, o mercado de produtos biológicos no Brasil deve triplicar. É o que diz uma pesquisa da Consultoria Blink Projetos Estratégicos com a CropLife, que projeta um valor de R$ 3,7 bilhões — um crescimento de 107% em comparação com a previsão de vendas em 2021 — para o setor em 2030.
Para chegar a essa conclusão, foram analisados dados da indústria de defensivos biológicos a partir dos produtos registrados no Brasil. A pesquisa identificou um crescimento desse mercado nos últimos três anos, um reflexo que o estudo atribui, principalmente, ao uso desses insumos no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Além do sistema, é cada vez mais comum que produtores rurais de commodities utilizem esses insumos em suas lavouras. Segundo a mesma pesquisa, grandes culturas como soja, cana-de-açúcar e milho, representam hoje 75% do mercado de produtos biológicos no Brasil.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio) também ressaltam o crescimento do mercado de defensivos biológicos. De acordo com a instituição, a indústria de biocontrole está crescendo 5,3 vezes mais rápido em comparação à indústria de defensivos químicos.
Com a expansão do mercado brasileiro, a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) destaca que grandes empresas estão adquirindo ou reativando divisões relacionadas ao desenvolvimento de biopesticidas. O governo federal também tem se movimentado para incentivar a área, com a publicação do Decreto nº 7794/2012, que instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.
Como é a comercialização dos defensivos biológicos?
A comercialização de defensivos biológicos segue as mesmas regras dos agrotóxicos.
No caso, essas diretrizes estão dispostas na Lei nº 14.785/2023. Dentre elas, está a obrigatoriedade do receituário agronômico, documento emitido por um profissional legalmente habilitado com a prescrição do defensivo.
Como é a classificação dos defensivos biológicos?
A classificação dos defensivos biológicos está diretamente relacionada à composição do produto.
Como vimos acima, a composição do biodefensivo se baseia em um ativo biológico.
Alguns tipos de ativos biológicos usados da formulação de biodefensivos são:
- Agentes biológicos de controle: oganismos vivos que controlam população de pragas e doenças. Podem ser:
- Macrobiológicos: ácaros, insetos e nematoides;
- Microbiológicos: vírus, bactérias, protozoários e fungos.
- Substâncias químicas naturais:
- Semioquímicos: compostos de origem natural como feromônios e aleloquimicos;
- Bioquímicos: compostos que induzem respostas comportamentais nos alvos,. Como exemplo, temos os hormônios reguladores de crescimento e enzimas.
Como é o registro dos defensivos biológicos?
Ao longo dos anos, houve incentivo governamental para que os defensivos biológicos tenham mais espaço.
O Decreto nº 4074/02, publicado como complemento à antiga Lei dos Agrotóxicos (Lei nº 7.802/1989), institui no artigo 12 que produtos de baixa toxicidade e periculosidade devem ter a avaliação de registro priorizadas.
Dessa maneira, esses produtos tendem a serem avaliados em até dois anos, período consideravelmente menor ao dos agrotóxicos, que podem levar até dez anos para receberem aprovação.
Além disso, vale destacar que para cada tipo de ativo biológico, existe uma normativa específica, que regulamenta o uso do ingrediente no país.
Confira as respectivas instruções abaixo:
- Macrobiológicos: Instrução Normativa Conjunta Mapa/Ibama/Anvisa nº 2/2006;
- Microbiológicos: Instrução Normativa Conjunta Mapa/Ibama/Anvisa nº 3/2006;
- Semioquímicos: Instrução Normativa Conjunta Mapa/Ibama/Anvisa nº 1/2006;
- Bioquímicos: Instrução Normativa Conjunta Mapa/Ibama/Anvisa nº 32/2005.
Quais são os defensivos biológicos mais utilizados no Brasil?
Os defensivos biológicos mais utilizados na agricultura brasileira são os de agente biológico de controle, do tipo macrobiológico.
No caso, um dos mais comuns são aqueles compostos com as vespas Cotesia flavipes e Trichogramma galloi, utilizadas no controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), principal praga da cana-de-açúcar.
Essas vespas parasitam os diferentes estágios da broca, inseto que é lagarta na fase jovem e mariposa na fase adulta. Enquanto a C. flavipes coloca seus ovos no interior da lagarta, a T. galloi deposita seus ovos dentro dos próprios ovos da praga.
Quando os ovos se rompem, dentro da lagarta ou do ovo da broca-da-cana, as larvas das vespas a matam. Assim, o produtor controla a lagarta em dois estágios diferentes do seu ciclo de vida: lagarta e ovo.
Controle químico nas lavouras e resistência de pragas
Apesar da eficiência em combater pragas e doenças nas lavouras, o controle químico é uma prática que requer diversos cuidados. Afinal, precisamos lembrar que os agrotóxicos são produtos químicos, que oferecem risco à saúde das pessoas e do meio ambiente caso não sejam utilizados da maneira correta.
Condutas irregulares no uso de defensivos agrícolas — como a omissão de assistência técnica no campo, a não-observância da bula dos produtos fitossanitários e a falta de planejamento da safra — podem trazer diversos prejuízos ao produtor, desde econômicos até ao próprio agrossistema onde a cultura é estabelecida.
Alguns desses danos, por exemplo, são:
- Desaparecimento da população de insetos benéficos (aqueles que se alimentam de insetos-praga, como a joaninha);
- Concentração de resíduos tóxicos na água, alimentos e no solo;
- Ataques de pragas que antes eram consideradas de importância secundária;
Entre esses prejuízos, a resistência do alvo aos agrotóxicos é um dos problemas mais pertinentes. Insetos ou plantas adquirem essa capacidade após gerações desses organismos serem combatidos pelo mesmo agente químico — a seleção natural elege os indivíduos resistentes que se reproduzirão e, eventualmente, se tornarão a população dominante.
A resistência ocorre por diversas razões:
- Aplicação frequente de produtos de mesmo mecanismo de ação;
- Uso de dosagens acima da recomendada no rótulo ou na bula do produto;
- Mistura indevida de produtos,;
- Substituição por produtos cada vez mais tóxicos, na tentativa de se obter um controle mais efetivo de um alvo persistente.
Nesse contexto, os defensivos biológicos surgiram como uma opção viável para combater as pragas resistentes ao controle químico.
Por serem produtos com ativos biológicos de origem natural, os defensivos biológicos não são formulados com as substâncias químicas que os alvos possuem resistência.
Além disso, os defensivos biológicos exigem menos aplicações, prática que como vemos acima, contribui para que os organismos adquiram resistência aos produtos.
Defensivos biológicos e o Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Com a crescente preocupação em combater a resistência e promover o uso de produtos fitossanitários de maneira sustentável, pesquisadores criaram o Comitê Brasileiro de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) em 1997. O objetivo da entidade é implementar estratégias de manejo e monitoramento, além de promover o desenvolvimento de trabalhos específicos no campo de resistência de pragas a pesticidas.
Uma dessas estratégias é o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Ao associar o ambiente em que a lavoura está localizada com a dinâmica populacional da espécie, o sistema combina diferentes técnicas e métodos, de forma tão compatível quanto possível, e mantém a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico.
No MIP, é possível integrar o controle químico e biológico. A adoção de diversos manejos dentro da lavoura contribui para a otimização e eficiência dos insumos e defensivos químicos, além de ajudar na preservação do agroecossistema.
Quais são as vantagens dos defensivos biológicos?
O produtor rural tem diversos benefícios ao adotar os defensivos biológicos em suas lavouras.
Alguns deles são:
- Especificidade aos organismos a serem controlados, que atuam apenas em doenças e pragas específicas;
- Promovem a manutenção de insetos benéficos na lavoura, pois seu ativo biológico só afeta os organismos que são seu alvo;
- Reduz a dependência de aplicações constantes de outros produtos;
- Sustentabilidade do método, que apresenta menor impacto ambiental e aos seres vivos;
- Não poluem o meio ambiente;
- Atende as exigências do mercado consumidor, preocupado com os efeitos adversos e resíduos dos agrotóxicos presente em seus alimentos e cada vez mais interessado em produtos orgânicos.
Além do crescimento do mercado de defensivos biológicos, a indústria do setor também encontra vantagens:
- Menor custo para o desenvolvimento do produto biológico (cerca de 2 a 10 mil dólares) em comparação com o de um defensivo químico (aproximadamente 250 mil dólares);
- Espaço no mercado para o desenvolvimento de produtos que combatam pragas resistentes aos produtos químicos e aos cultivos transgênicos;
- Baixa probabilidade de seleção de insetos resistentes aos agentes de controle biológico.
Quais são os desafios no uso dos defensivos biológicos?
Apesar do cenário positivo para o desenvolvimento dos defensivos biológicos, produtores rurais e as empresas do setor também encontram desafios, como:
- Carência de cursos para formação de profissionais, tanto para operar nas empresas quanto para difundir a técnica,
- Baixa disponibilidade de produtos, insuficientes em quantidade e qualidade para atender a demanda;
- Especificidade dificulta o uso dos produtos para diversos sistemas;
- Falta de legislação específica para os defensivos biológicos, que poderia acelerar o registro e produção dos produtos, bem como melhorar o controle de qualidade e fiscalização;
- Pouco financiamento e incentivo para o desenvolvimento e a produção em larga escala dos produtos biológicos;
- Definição de um modelo próprio para o uso de agentes biológicos de controle para a região tropical, em grandes extensões.
Conclusão
Seguindo a tendência mundial, empresas nacionais e internacionais se interessam cada vez mais em defensivos biológicos.
Com o aumento do investimento na tecnologia de produção e comercialização desses agentes biológicos, a previsão é de que esta cadeia produtiva e os registros desses produtos se tornem menos onerosos.
Embora o controle biológico de pragas esteja apenas começando no Brasil, a velocidade de crescimento dos defensivos biológicos é promissora. Com o avanço desse mercado, a tendência é aumentar o aperfeiçoamento dos processos relacionados ao controle biológico, gerando oportunidades para a pesquisa e parcerias para a inovação nesse campo.
Engenheira agrônoma e analista de sucesso do cliente no AgriQ Receituário Agronômico.
2 Comentário
Marieta Campos
31/10/2022Boa Tarde,
Tem algum produto contra antracnose?
AgriQ Receituário Agronômico
14/11/2022Olá, Marieta! Não trabalhamos com a comercialização de produtos agrícolas — somos uma plataforma para a emissão de receituário agronômico.