Para conter o desenvolvimento de fungos patógenos nas lavouras, laboratórios e empresas desenvolveram os fungicidas, produtos específicos para o controle desses organismos.
Com o avanço da ciência, hoje temos uma grande variedade de fungicidas disponíveis no mercado, com diferentes ingredientes ativos e finalidades de uso.
Para este artigo, preparamos um guia básico com tudo o que você precisa saber sobre os fungicidas. Continua a leitura e aprenda mais sobre esses defensivos agrícolas!
O que é e para que serve o fungicida?
Os fungicidas são substâncias químicas desenvolvidas para o controle de doenças causadas por fungos nas lavouras.
Juntamente com os herbicidas e inseticidas, os fungicidas são um dos tipos de defensivos agrícolas disponíveis no mercado. A aplicação dos produtos pode acontecer em diferentes momentos da produção do vegetal, desde o período de crescimento da planta até a fase de estocagem.
Por que os fungicidas são importantes? Quais são seus usos?
Diversas doenças comuns nas culturas são causadas por fungos. A ocorrência dessas enfermidades pode levar os produtores a um prejuízo econômico enorme — eles não só podem perder uma parte considerável da lavoura (ou em casos extremos, todo o cultivo), como também ter o rendimento e qualidade da produção remanescente afetada.
A Sociedade Americana de Fitopatologia (APS, na sigla em inglês) define as principais razões para o uso de fungicidas:
- Controle de doenças durante o estabelecimento e desenvolvimento de uma cultura;
- Aumentar a produtividade da lavoura, pois as culturas de interesse alimentar podem produzir menos com folhas doentes (os fungos atrapalham a fotossíntese do vegetal);
- Reduzir os danos estéticos, que podem afetar a parte comestível do vegetal ou, no caso de plantas ornamentais, reduzir sua atratividade e consequentemente, o valor e as vendas da produção;
- Aumentar o período de armazenagem da produção, de forma a reduzir a chance de doenças ocorrem no pós-colheita.
Sendo assim, podemos empregar o uso de fungicidas nos seguintes casos:
- Proteção de folhagem e brotações novas, com aplicação dos fungicidas durante o crescimento das plantas;
- Tratamento de sementes, para evitar a disseminação de doenças e protegê-las de fungos presentes no solo;
- Proteção de ferimentos contra a penetração de fungos, causados no momento de podas, capinas, entre outras atividades;
- Desinfestação do solo, para evitar ou reduzir a presença de fungos no solo;
- Tratamento pós-colheita, para proteger a produção durante o período de armazenamento, transporte e comercialização;
- Quimioterapia, tratamento utilizado para curar uma infecção já instalada no interior dos tecidos da planta.
Como é a composição dos fungicidas?
A composição básica dos fungicidas se baseia em duas partes: o ingrediente ativo e a formulação.
O ingrediente ativo é o componente químico principal do fungicida. É a parte patenteada e registrada pelo fabricante, que posteriormente é misturada a um ingrediente inerte (como, por exemplo, um solvente) que aumenta a performance do produto.
Sendo assim, chamamos essa mistura dos dois ingredientes de formulação.
Como é a classificação dos fungicidas? Quais são os tipos?
Nós podemos classificar os fungicidas por diferentes critérios. Os mais comuns são:
A seguir, veja mais sobre cada um deles!
Princípio de controle
Quando categorizamos os fungicidas sob esse critério, nos referimos ao modo como o produto atua na planta e controla o fungo.
Sendo assim, podemos dividir os fungicidas nessa classificação em três tipos: protetores, curativos e erradicantes.
Apesar de não ser tão comum, outra classificação possível nesse critério é a dos fungicidas como antiesporulantes, que também vamos falar mais abaixo.
Fungicidas protetores (fungicidas preventivos)
Os fungicidas protetores, também conhecidos como preventivos, são aqueles que conseguem evitar a penetração do fungo na planta.
Ao serem aplicados, os produtos que se encaixam nesta categoria conseguem formar uma barreira protetora antes que o fungo se instale ou se desenvolva no vegetal. Por esse motivo, costumam ser muito utilizados para proteger folhagens e sementes.
À medida que o vegetal cresce, novas partes da planta ficam desprotegidas. Como resultado, geralmente esses fungicidas precisam de mais aplicações.
Fungicidas curativos
Os fungicidas curativos são os produtos que possuem capacidade de penetrar na planta e impedir o fungo de atingir os tecidos do vegetal.
Normalmente, esses defensivos costumam funcionar melhor no período entre 24 e 72 horas após a infecção do fungo na planta — ou seja, logo no início ou depois da identificação dos primeiros sintomas, quando estes ainda não estão visíveis.
Fungicidas erradicantes
Os fungicidas erradicantes são aqueles que conseguem impedir o desenvolvimento da doença causada pelo fungo.
Geralmente, recomenda-se aplicação desses produtos após a planta desenvolver os sintomas da doença. Também é possível utilizá-los de outras formas, como no tratamento de sementes, do solo ou no de inverno, momento em que as plantas de clima temperado entram em repouso vegetativo.
Fungicidas antiesporulantes
Os fungicidas antiesporulantes são os produtos que impedem a produção de esporos.
Produtos nesta classificação não inibem o desenvolvimento da doença, mas com a capacidade antiesporulante, evitam que esses esporos sejam lançados e infectem plantas ao redor.
Mobilidade
Nesta classificação, quando falamos em mobilidade, nos referimos à capacidade dos fungicidas de serem absorvidos e se moverem pelos tecidos da planta.
Sendo assim, temos duas categorias: os fungicidas sistêmicos e os fungicidas de contato.
Fungicidas sistêmicos
O primeiro fungicida nesta categoria é o sistêmico, que consegue ser absorvido pela planta no local de aplicação. Alguns produtos desse tipo podem, ainda, se translocar — ou seja, se movimentar — pelos tecidos da planta.
Essa absorção pode acontecer de duas formas: pelas raízes ou, quando a aplicação do produto é via foliar (diretamente nas folhas), pela cutícula da planta.
Após ser absorvido, a translocação do fungicida ocorre pelo sistema vascular da planta, por meio de um dos vasos condutores: o xilema ou o floema.
A forma como ocorre esse movimento na planta leva a uma classificação ainda mais específica nessa categoria. O fungicida que se movimenta pelo xilema, na direção superior da planta, pode ser chamado de fungicida sistêmico de translocação ascendente.
Nesse sentido, outra classificação existente são os fungicidas mesostêmicos. Também conhecidos como fungicidas localmente sistêmicos, esses compostos se redistribuem apenas nas folhas, no limbo foliar ou nas proximidades do local em que o produto foi aplicado.
Pela capacidade de absorção e translocação, os fungicidas sistêmicos têm uma grande variedade de usos. No mercado, é possível encontrar opções imunizantes, protetivas, curativas e erradicantes.
Fungicidas de contato
Os fungicidas de contato, por sua vez, não têm compostos que conseguem se translocar pela planta. Por isso, são produtos que permanecem no local de aplicação, já que só chegam a ser levemente absorvidos, sem adentrar profundamente pelo vegetal.
Por conta dessa característica, os fungicidas de contato precisam de diversas aplicações, já que podem ser lavados pela chuva, irrigação ou, até mesmo, degradados pela luz solar.
Também em decorrência disso, esses fungicidas são eficazes apenas de forma preventiva. Em estágios mais avançados de desenvolvimento do fungo, quando ele germinou os poros ou já se adentrou na planta, os produtos não têm efeito, pois não conseguem se movimentar e aprofundar no vegetal.
Espectro ou alvo biológico
A classificação dos fungicidas quanto o espectro ou alvo biológico se refere ao modo como esses produtos atuam no metabolismo dos fungos.
Nesse caso, podemos dividir os fungicidas em dois tipos: sítio-específico e multissítio.
Fungicidas sítio-específico
Como já diz o nome, os fungicidas sítio-específico são produtos que atingem pontos particulares do fungo, mas que são indispensáveis para a sobrevivência do organismo.
Na prática, isso significa que esses defensivos afetam uma única reação bioquímica ou uma enzima específica. Seja qual for a ação do fungicida, o produto irá prejudicar um processo crucial do fungo e assim, inibir a ação do patógeno.
Por conta de sua especificidade, os fungicidas sítio-específicos são menos nocivos, já que sua propriedade tóxica atinge somente o fungo e não a planta. Desse modo, o vegetal pode absorver o defensivo e não sofrer prejuízos.
No entanto, ao mesmo tempo que essa especificidade traz vantagens, também existem malefícios. Dentre eles, o principal é a facilidade com que os fungos conseguem desenvolver resistência a esse tipo de fungicida, o que impossibilita um uso prolongado do produto.
Fungicidas multissítio
Os fungicidas multissítio agem em diferentes processos metabólicos dos fungos. Normalmente, são produtos com ação de contato e não têm capacidade de deslocar pela planta.
Diferentemente dos sítio-específicos, os fungicidas multissítios possuem atuação ampla — ou seja, atingem o fungo como um todo. Por isso, é incomum que os patógenos desenvolvam resistência a esses produtos.
Modo de ação
Na classificação quanto ao modo de ação, a separação dos fungicidas é feita de acordo com o processo metabólico que eles afetam ou inibem nos fungos.
De acordo com o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (FRAC, na sigla em inglês), órgão que reúne os principais produtores dos defensivos dessa categoria no Brasil, os fungicidas podem ser divididos nos seguintes modos de ação:
- Biossíntese de esterol em membranas;
- Biossíntese da parede celular;
- Indutor de defesa em plantas hospedeiras;
- Mitose e divisão celular;
- Respiração;
- Síntese de ácidos nucleicos;
- Síntese de aminoácidos e proteínas;
- Síntese de lipídios e integridade da membrana;
- Síntese de melanina na parede celular;
- Transdução de sinal.
Também há fungicidas que não se enquadram em um modo de ação específico. Geralmente, isso ocorre quando os fungicidas têm um registro temporário (ou seja, ainda estão em experimentação ou pesquisa) ou possuem dados incertos sobre modo de ação e risco de resistência. Nesses casos, o FRAC os categoriza como “não classificados”.
Grupo químico
A partir da classificação quanto ao modo de ação, podemos diferenciar os fungicidas de modo ainda mais específico: de acordo com os grupos químicos.
Ao categorizá-los nessas classes, os fungicidas são divididos conforme a estrutura ou modo de ação bioquímico. Sendo assim, podem ser orgânicos (ou seja, as moléculas de sua estrutura química possuem átomos de carbono) ou inorgânicos (moléculas sem átomos de carbono).
Atualmente, a maioria dos fungicidas são de natureza química orgânica. Já os inorgânicos, apesar de ainda existirem opções disponíveis no mercado, eram mais comuns antigamente, quando as empresas estavam começando a desenvolver fungicidas.
Você pode conferir a lista completa dos grupos químicos no site do FRAC.
O caso dos biofungicidas
Acima, vemos como é a classificação dos fungicidas de composição química.
Mas como ficam os biofungicidas? As categorias são as mesmas?
Antes de nos adentrarmos nesse ponto, precisamos entender o que são os biofungicidas.
Os biofungicidas são produtos com um ingrediente ativo de origem biológica. Esse tipo de fungicida utiliza microrganismos (geralmente bactérias ou fungos) capazes de controlar o fungo patogênico, que está atacando o vegetal.
Assim como a composição e o modo de ação dos biofungicidas é diferente das versões químicas, a classificação desses produtos também segue outra perspectiva.
Hoje, os fungicidas biológicos disponíveis à venda são incluídos em uma única categoria: a de entomopatogênicos (ou entomopatógenos, que também podemos utilizar). O termo faz referência ao modo que o ingrediente ativo biológico afeta o patógeno — no caso, infectando-o e causando epizootia (ou seja, uma doença que atinge ou causa a morte de toda a população de fungos do local).
Como escolher o fungicida ideal para a lavoura?
Na hora de escolher o fungicida, é importante considerar uma série de fatores.
Confira os principais abaixo:
Análise do contexto da lavoura
Primeiramente, para definir qual o melhor fungicida para o caso da lavoura, é preciso analisar todo o contexto da lavoura, bem como da região.
Na prática, isso significa que é preciso compreender as características da cultura, do clima, da região e da espécie de fungo patógeno para, então, definir o fungicida.
Essa análise é fundamental para reduzir os riscos de algum impacto negativo ao meio ambiente, bem como toda à lavoura, decorrente da aplicação de fungicidas.
Além disso, a avaliação do contexto reforça outro ponto importante em relação aos fungicidas: o cuidado na hora da prescrição.
Como outros defensivos agrícolas, os fungicidas devem ser prescritos por meio de receituário agronômico. O documento, que funciona como uma recomendação técnica para o uso desses produtos, só pode ser emitido por profissionais legalmente habilitados e é obrigatório para o comércio de agrotóxicos no país.
Por isso, o ideal é que a análise da lavoura seja feita por um profissional especializado e que emita receita agronômica. Desse modo, o produtor garante mais segurança e assertividade na hora de aplicar os fungicidas, bem como atende o compliance exigido para o uso de agrotóxicos.
Finalidade da aplicação
A partir da análise da lavoura, é hora de avaliar a finalidade da aplicação do fungicida. Precisamos prevenir doenças? Ou é necessário realizar o tratamento da produção pós-colheita?
Após definir o intuito do uso, já é possível fazer uma pré-seleção dos fungicidas que podem ser utilizados para essa finalidade.
Fase do fungo patógeno
Um dos pontos mais importantes para a escolha do fungicida é o momento da doença. Observar em qual estágio de desenvolvimento o fungo está complementa a análise da lavoura e ajuda a definir qual tipo de defensivo deverá ser aplicado.
Isso acontece porque alguns fungicidas funcionam melhor para a aplicação preventiva, quando o fungo ainda não penetrou nos tecidos do vegetal. É um momento em que o patógeno está mais vulnerável e pode ser mais facilmente controlado.
Já outros fungicidas, como os erradicantes, são ideais para estágios mais avançados da doença.
Características do fungicida
Com as informações recolhidas nos pontos anteriores, podemos partir para a análise das características dos fungicidas disponíveis no mercado.
Quanto ao produto, é preciso avaliar características como:
- Aderência e cobertura do produto no vegetal, que influencia no nível de proteção do produto e na quantidade de reaplicações necessárias;
- Tenacidade, ou seja, a capacidade do fungicida de resistir a fenômenos externos (chuva, por exemplo) até ele ser transformado em resíduo;
- Compatibilidade com outros produtos químicos, pois em alguns casos, lavouras são acometidas por mais de uma doença, o que acaba exigindo a aplicação de mais de um fungicida ou outro tipo de defensivo na lavoura;
- Espectro de ação, de forma a avaliar quais espécies de fungos um único fungicida pode ser utilizado;
- Equipamento de aplicação e proteção necessários para a pulverização do produto;
- Riscos que o produto oferece ao meio ambiente, ao ser humano e os animais.
- Solubilidade, ou seja, a aptidão do fungicida para se dissolver em outros líquidos.
Quais são os métodos de aplicação dos fungicidas?
Como outros defensivos agrícolas, a aplicação dos fungicidas pode ser feita de diferentes formas.
Primariamente, um dos pontos que precisam ser considerados na hora de aplicar o fungicida são as próprias características do produto. Se o defensivo é comercializado em grânulos, por exemplo, sua aplicação será diferente de um líquido.
Outro fator que influencia nessa decisão é a finalidade do uso do fungicida. De modo geral, recomendam-se os seguintes métodos para esses casos:
- Tratamento do solo: aplicação por meio de sulcos durante o plantio ou com irrigação e pulverização após o plantio;
- Folhas e outras partes da planta: aplicação com uso de pulverizador;
- Dentro de árvores: aplicação do produto por meio de injeção no tronco;
- Ambientes fechados (como estufas) ou solo coberto: fumigação, com aplicação do fungicida em vapor;
- Tratamento da produção pós-colheita: imersão ou pulverização, feita na Packing House (casas de embalagens para produtos agrícolas).
No caso da pulverização, a aplicação pode ser feita por diferentes tipos de pulverizadores ou por tratores, aeronaves e drones.
Para decidir entre os equipamentos, é preciso considerar a finalidade e o custo da aplicação (que poderá envolver, por exemplo, o equipamento, os bicos de pulverização e a contratação de um profissional especializado), bem como as características do fungicida (há alguns produtos que não podem ser aplicados de modo aéreo, por exemplo).
Como aplicar os fungicidas com segurança?
A princípio, a regra básica para ter uma aplicação segura de fungicidas é seguir as orientações do profissional que prescreveu o produto.
Em uma receita agronômica emitida pelo AgriQ, por exemplo, você encontra todas as recomendações técnicas para a aplicação do fungicida, com informações sobre dosagem, intervalo, taxa de aplicação, entre outras. Além disso, também encontra uma sessão completa com as precauções de uso e cuidados que devem ser adotados para a segurança do aplicador e do meio ambiente.
Outro ponto crucial para uma aplicação responsável é seguir as recomendações da bula. Esses dados, presentes no rótulo do fungicida, também serão informados na receita agronômica e na ficha de emergência do produto, documento que acompanha o fungicida durante seu transporte.
Nesse tópico, também não podemos esquecer do Equipamento de Proteção Individual (EPI), fundamental para a segurança do aplicador. A receita agronômica irá indicar se o produto exige a proteção e como utilizar o aparato.
Conclusão
Neste artigo, você conheceu mais sobre os fungicidas, produtos desenvolvidos para o controle de fungos.
Como outros defensivos agrícolas, os fungicidas exigem cuidado e proteção especial na hora da aplicação. Por isso, devem ser prescritos por meio de uma receita agronômica, documento com recomendações técnicas e obrigatório na comercialização desses produtos.
A evolução da ciência levou ao desenvolvimento de vários tipos de fungicidas, com diferentes modos de ação e até mesmo, ingredientes ativos de origem biológica. Além disso, as opções atuais têm uma ampla variedade de uso e podem ser, inclusive, combinadas com outros tipos de defensivos ou métodos de controle de pragas.
Gostou deste conteúdo? Aproveite e leia nosso artigo sobre herbicidas.
Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.
2 Comentário
Larissa
29/05/2023Boa tarde. Preciso referenciar este trabalho.. qual foi o ano de publicação do artigo?
AgriQ Receituário Agronômico
30/05/2023Olá, Larissa! Em 2021.