Uma doença que leva ao apodrecimento e em casos mais graves, perdas totais da produção – esta é a requeima, uma das principais doenças da batata e do tomate.
Velha conhecida dos produtores rurais, a requeima é uma doença severa e que se propaga com velocidade. Por isso, a chave para um manejo bem-sucedido envolve estratégias de prevenção e um monitoramento assertivo, capaz de identificar os primeiros sinais de infecção.
Neste artigo, vamos explicar o que causa a requeima, como reconhecer os sintomas na planta e quais são as principais técnicas de controle.
Vamos lá?
O que é a requeima?
A requeima, também conhecida como mela, é uma doença que afeta as culturas da família Solanaceae, em especial a batata e o tomate. É causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, um tipo de organismo morfologicamente próximo ao fungo.
O que leva ao desenvolvimento da requeima?
O clima úmido e de temperatura amena, entre 12ºC a 25ºC, favorece o desenvolvimento da requeima. Essa é a condição ideal para que o Phytophthora infestans forme esporângios, estruturas utilizadas na reprodução o organismo, que são dispersadas pelo vento e água.
Em períodos de temperatura de 18ºC a 25ºC, os esporângios germinam diretamente no tecido vegetal da planta. Já em uma temperatura entre 12ºC a 16ºC, os esporângios produzem zoósporos biglafeglados, esporos com flagelos que podem nadar até os tecidos das plantas.
É devido a esta alta capacidade dos zóosporos se movimentarem pela água que a umidade é uma questão central para o desenvolvimento da requeima na planta. Caso a umidade permaneça por muito tempo nas plantas (mais de 10 horas), com longos períodos de molhamento decorrentes da chuva, orvalho ou irrigação, o Phytophthora infestans pode se desenvolver mesmo quando o dia possui temperaturas mais elevadas. Para tal, basta que as noites apresentem um clima mais ameno, em torno ou abaixo de 22ºC.
Neste contexto, são formados oósporos, esporos com parades espessas e de maior resistência. Esta característica possibilita que essas estruturas sobrevivam a condições desfavoráveis e, ainda, permaneçam no solo sem uma planta hospedeira viva. Somente quando encontrarem o clima ideal para se desenvolverem é que os óosporos germinarão, o que pode levar a um novo ciclo da doença.
Sendo assim, em locais com as condições ideais para o desenvolvimento da doença, a requeima é mais severa, já que o ciclo de infecção consegue ser completo entre quatro a cinco dias.
Quais são os sintomas da requeima?
O principal sintoma da requeima são as manchas nas folhas. De tamanho variável, as lesões inicialmente possuem coloração verde-clara ou escura e, posteriormente, se tornam marrom-escuras ou negras, envoltas ou não por um halo amarelado ou verde claro.
Outro sintoma característico da requeima é o crescimento de pontos branco-acinzentados ao redor das lesões, na face inferior dos folíolos das folhas. São nestes locais que estão os esporângios do Phytophthora infestans.
Com o alastramento da doença por toda a planta, ocorre a necrose das folhas, que dão o aspecto de uma planta queimada.
A requeima também afeta o caule, que escurece com a infecção, e os brotos das plantas, onde causa a morte das gemas apicais. Isto leva ao apodrecimento das raízes e frutos.
Os sintomas da doença também variam de acordo com a planta. A requeima no tomate se manifesta com manchas úmidas, profundas e de coloração marrom, que varia de intensidade (pode ser mais clara e também escura). Além disso, a infecção também pode levar ao tombamento durante a fase de produção de mudas.
Já em tubérculos como a batata, as lesões externas são castanhas e superficiais, com bordas definidas. No interior, a coloração castanha da necrose se torna mesclada e ganha tons avermelhados, com aparência granular.
Quais são os prejuízos que a requeima pode causar ao tomate e à batata?
Como explicamos acima, a infecção da requeima se espalha de forma rápida, levando ao apodrecimento das plantas de tomate e batata.
Pela velocidade da propagação, lavouras inteiras podem ser perdidas. Um exemplo real do poder de destruição da doença é a Grande Fome da Irlanda, que durou de 1845 a 1849. Neste período, houve uma redução de cerca de 80% da produção de batata, alimento básico da dieta da época. Como consequência, milhares de pessoas emigraram ou morreram de fome.
Como prevenir a requeima?
Existem diversas estratégias para prevenir a requeima na batata e no tomate. As principais são:
Cuidado com plantas remanescentes e restos culturais
Depois da colheita, é fundamental eliminar quaisquer restos culturais (como plantas e frutos) para evitar que o oósporo do Phytophthora infestans encontre condições propícias para se desenvolver.
A destruição dos restos da cultura também evita o nascimento de plantas voluntárias, que nascem a partir de sementes remanescentes presentes no chão.
Plantio de mudas e sementes sadias
É preciso ter cuidado com a procedência das mudas e sementes, de forma a evitar que elas estejam contaminadas com o Phytophthora infestans. O ideal é que elas sejam certificadas e produzidas por empresas com autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a atividade.
Se a produção de sementes e mudas for própria, é imprescindível que não sejam utilizados plantas e frutos infectados. Para evitar qualquer presença do Phytophthora infestans, o tratamento com fungicidas sistêmicos antes do plantio também é recomendado.
Limpeza de máquinas e ferramentas
Alinhada à eliminação de restos culturais, a limpeza de máquinas e ferramentas também é essencial. Esta é mais uma forma de se precaver à qualquer presença do Phytophthora infestans.
Uso de variedades resistentes
Para evitar o desenvolvimento da requeima na batata, a melhor opção é utilizar cultivares resistentes à doença.
No caso do tomate, atualmente não temos cultivares ou híbridos com resistência à requeima. Por isso, o melhor ainda para a cultura é o cuidado com as mudas e sementes.
Rotação de culturas
A rotação de culturas, prática agrícola com cultivos alternados de diferentes culturas em uma mesma área, é outra estratégia para prevenir a requeima.
Por meio dessa alternância, há a redução do potencial de inóculo (neste caso, os esporos do Phytophthora infestans) no terreno onde será o cultivo.
Época e local de plantio adequado
Além das estratégias que mencionamos, outros cuidados com o local de plantio também ajudam a prevenir o desenvolvimento da requeima.
São eles:
- Evitar o plantio em locais com tendência a longos períodos de alta umidade, como baixadas sujeitas a ocorrência ou permanência de neblinas, áreas com solos mal drenados e terrenos próximos a reservatórios de água;
- Realizar o plantio com espaçamento adequado, para promover melhor ventilação entre as folhagens e evitar o acúmulo de umidade nas folhas das plantas;
- Evitar o plantio próximo a culturas velhas e possíveis plantas hospedeiras do Phytophthora infestans;
- Optar pelo plantio em épocas mais quentes e menos chuvosas.
Equilíbrio na adubação
O excesso de nitrogênio torna os tecidos das plantas mais vulneráveis ao Phytophthora infestans. Por isso, para evitar a requeima, é importante ter cuidado com a composição dos fertilizantes.
A melhor escolha são produtos que aumentem os níveis de boro, cálcio, fósforo e magnésio, pois estes são nutrientes que reduzem a incidência e a severidade da requeima.
Controle da irrigação
A umidade é uma questão chave para o aparecimento da requeima. Desse modo, além dos cuidados com a época e local de plantio, também é importante evitar o excesso de irrigação.
Para evitar o acúmulo de umidades nas folhas, o melhor é evitar irrigações noturnas e no fim do dia, bem como as de aspersão (sistema com jatos de água que imitam chuva).
O sistema de irrigação mais aconselhável é o de gotejamento, pois não molha a planta, em especial as folhas e frutos.
Controle biológico
A aplicação preventiva de defensivos agrícolas biológicos — ou seja, produtos com um ingrediente ativo de origem natural — também são uma forma de evitar a severidade da requeima nas plantações.
Na batata, aplicações foliares de produtos formulados com a bactéria Bacillus subtilis e o fungo Trichoderma harzianum mostraram bons resultados, conforme estudo publicado no European Journal of Plant Pathology.
Já para tratamento de tubérculos e aplicações foliares, produtos com o fungo Trichoderma atroviride na formulação contribuíram para reduzir a severidade da doença.
Como realizar a aplicação de fungicidas para o controle da requeima?
O controle químico para a requeima deve ser feito com uso de fungicidas a partir do monitoramento da lavoura. Essa aplicação pode ocorrer de forma preventiva ou para controle da doença quando esta já apresenta os primeiros sinais.
Para a aplicação antes do aparecimento da doença, o tipo ideal de fungicida é o de contato. A formulação deste produto possui compostos sem mobilidade (isto é, não conseguem se deslocar pela planta) e que permanecem no local da aplicação. Dessa forma, o defensivo cria uma proteção na superfície foliar, que permanece por cerca de quatro a oito dias.
Ao menor sinal dos sintomas da requeima, é hora de partir para a aplicação de fungicidas sistêmicos. Estes produtos possuem compostos com capacidade de translocamento (ou seja, de se movimentar pela planta) e são rapidamente absorvidos.
De modo que o Phytophthora infestans não desenvolva resistência aos fungicidas, é fundamental evitar o uso recorrente de produtos com o mesmo ingrediente ativo e mecanismo de ação. O recomendado é alternar o uso de fungicidas de contato com o de sistêmicos e, em situações de alta pressão da doença, não realizar aplicações curativas.
Além disso, vale ressaltar que independentemente do tipo de fungicida, a aplicação do produto — que lembramos, é um agrotóxico — deve seguir as orientações dispostas no receituário agronômico e na bula do produto.
Conclusão
Neste artigo, explicamos o que é a requeima, doença causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, e como ela afeta as culturas da batata e tomate, levando ao apodrecimento dos frutos e tubérculos.
Também neste texto, apresentamos quais são os principais métodos de prevenção e controle da doença.
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Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.
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