Imagem de destaque para artigo sobre sequestro de carbono no Blog AgriQ. (Créditos: Shutterstock)

Sequestro de carbono: qual sua relação e importância para a agricultura?

Sequestro de carbono: qual sua relação e importância para a agricultura?

Qual é a relação da agricultura com o sequestro de carbono?

Na prática, o setor agrícola tem um papel significativo nesse processo. Isso porque práticas agrícolas como plantio direto, rotação de culturas e sistemas integrados de Lavoura-Pecuária-Floresta possibilitam o sequestro de carbono da atmosfera.

Neste artigo, vamos explicar o que é sequestro de carbono na agricultura, sua importância e de que forma as práticas agrícolas contribuem para esse processo.

Acompanhe a seguir!

O que é sequestro de carbono?

O sequestro de carbono é o termo utilizado para indicar o processo de retirada de gás carbônico (CO₂) da atmosfera para transformá-lo em oxigênio (O₂). Essa técnica ocorre naturalmente pelo solo, florestas e oceanos.

Dessa forma, na natureza, essa captação de CO₂ ocorre por meio do crescimento de vegetais que realizam a fotossíntese, além da absorção do oceano e do solo.

Como ocorre o processo do sequestro de carbono na agricultura?

A princípio, o sequestro de carbono na agricultura pode ocorrer por meio da fotossíntese e de práticas agrícolas como o sistema de plantio direto, rotação de cultura e até mesmo por técnicas que produzem mais alimentos por hectare.

Vamos ver mais sobre esses processos abaixo!

Fotossíntese

Em relação a fotossíntese, o processo é realizado pelas plantas, que capturam o carbono da atmosfera e o convertem em carboidratos. Parte disso retorna ao ciclo de vida em forma de alimentos, fibras e energia, enquanto outra parte fica depositada na madeira, raízes, entre outros.

Nesse processo, parte dessas raízes e folhas secas se decompõe e, com o passar do tempo, se convertem em matéria orgânica, que além de ser rica em carbono, também armazena água e nutrientes.

Plantio direto

O plantio direto, basicamente, tem o objetivo de realizar a cobertura do solo para manter seus nutrientes. Assim, com uso da palha e restos vegetais de outras culturas, o solo se mantém preservado.

Nesse sistema, o processo de decomposição da planta de cobertura é mais lento. Como consequência, ocorre o estoque de carbono no solo e a redução de perdas para a atmosfera.

Dessa forma, considerando o clima tropical do Brasil, um hectare pode sequestrar até 0.8 toneladas de dióxido de carbono.

Rotação de culturas

A rotação de culturas consiste em alternar, de maneira ordenada, diferentes espécies vegetais em um determinado espaço de tempo, na mesma área e na mesma estação do ano.

Portanto, para garantir sua eficácia, é necessário realizar roçagens periódicas, que resultam em uma espécie de “cama verde” para o solo. Assim, a partir da decomposição das plantas, é possível converter de 15% a 25% de carbono em carboidratos.

Qual a importância e as principais vantagens do sequestro de carbono?

Ao adotar práticas agrícolas que permitem a captura de carbono, o setor do agronegócio contribui para a eliminação do acúmulo desse gás na atmosfera.

Como resultado, haverá a redução das consequências geradas pelo aquecimento global para a população em geral.

Entenda a seguir por que o sequestro de carbono é importante e suas principais vantagens!

1. Aquecimento global

O aquecimento global é provocado devido ao aumento de níveis de CO₂ na atmosfera.

Nesse sentido, investir na captação desse gás — ou seja, no sequestro de carbono — é uma das maneiras de controlar o aquecimento global e, consequentemente, reduzir as mudanças climáticas provocadas por ele.

2. Economia de baixo carbono

A alta emissão de gás carbônico é responsável por uma série de problemas ambientais. Por isso, as empresas são estimuladas a adotar práticas sustentáveis, que incorporadas em cadeia, colaboram para a economia de baixo carbono.

Como resultado, indústrias e consumidores têm a possibilidade de consumir produtos “mais limpos”, desde a sua concepção na terra.

3. Processos sustentáveis

Na agricultura, o sequestro de carbono é uma das melhores maneiras de garantir processos mais sustentáveis.

Além disso, cabe destacar que não há como ter bons resultados na atividade agrícola sem recursos naturais e equilíbrio ambiental.

Quais são as práticas agrícolas que colaboram para o sequestro de carbono da atmosfera?

Existem determinadas práticas agrícolas que favorecem o sequestro de carbono, o que consequentemente, tornam a propriedade mais sustentável.

No entanto, para investir em práticas agrícolas que sequestram carbono, o produtor precisará aderir a políticas públicas como o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e executado pela Embrapa e parceiros.

Sendo assim, o Plano ABC estimula a prática dos seguintes programas:

  • Recuperação de pastagens degradadas;
  • Sistema de produção integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF);
  • Sistema de Plantio Direto (SPD);
  • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN);
  • Incorporação das florestas plantadas;
  • Tratamento de dejetos animais;
  • Adaptação à mudança do clima.

Existem uma série de ações que contribuem para a realização do plano, por exemplo:

  • Divulgação;
  • Capacitação de técnicos e produtores;
  • Transferência de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento;
  • Regularização fundiária e ambiental;
  • Linhas de crédito para fomento à produção sustentável;
  • Produção e distribuição de mudas florestais;
  • Disponibilização de insumos para agricultura familiar;
  • Contratação de assistência técnica.

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Quais iniciativas promovem o sequestro de carbono na agricultura?

Atualmente, existem iniciativas que ajudam a promover o sequestro de carbono na agricultura, como o Projeto ABC que citamos acima.

Veja!

Iniciativa Carbono Bayer

Em julho de 2020, a Bayer iniciou um programa de baixo carbono denominado Iniciativa Carbono Bayer, que tem o objetivo de recompensar produtores rurais que adotam boas práticas no uso de ações de sequestro de carbono.

Hoje, esse projeto é realizado no Brasil e Estados Unidos nas culturas de milho e soja.

Inclusive, especificamente no Brasil, o programa possui o auxílio da Embrapa para desenvolver metodologias de baixa emissão de carbono. O intuito é escalar essas metodologias com um custo viável aos agricultores.

Programa Reverte

O Programa Reverte, lançado em 2019 a partir de uma parceria entre a The Nature Conservancy (TNC) e a Syngenta, está baseado nos princípios da pecuária e agricultura regenerativa. O objetivo do projeto é demonstrar a viabilidade econômica da recuperação de pastagens degradadas, em detrimento da abertura de novas áreas para cultivo, evitando o desmatamento.

De modo geral, o projeto visa fomentar a recuperação de pastagens do Cerrado, considerando os benefícios de conservação do solo e da água.

Entre os benefícios, estão:

  • Melhora da produtividade;
  • Aumento do sequestro de carbono;
  • Redução das emissões de carbono;
  • Aumento da resiliência dos sistemas produtivos a eventos climáticos extremos.

Mercado de carbono

Além da necessidade de frear as mudanças climáticas e impedir prejuízos para o setor agrícola, a prática de sequestro de carbono tem também como interesse o rendimento financeiro, realizado por meio do crédito de carbono.

Em resumo, o crédito de carbono consiste em um certificado emitido, com valor financeiro e comercializável, que comprova a redução da emissão de gases. Em outras palavras, ele atesta que 1 tonelada de carbono deixou de ser emitida na atmosfera.

Desse modo, dependendo da abrangência da estratégia, é possível negociar cada crédito de carbono no mercado voluntário por valores entre 10 e 12 dólares.

Quais são as perspectivas do Brasil para o sequestro de carbono na agricultura?

De acordo com estudos do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o setor agropecuário tem potencial para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa provenientes das produções pecuárias e de soja até 2030.

Neste cenário, os pesquisadores apontam dois principais processos responsáveis pela descarbonização da produção:

  1. A recuperação de pastagens degradadas, evitando o desmatamento;
  2. Os sistemas integrados de Lavoura-Pecuária-Floresta.

Nos sistemas Lavoura-Pecuária-Floresta, os produtores combinam diferentes tipos de produção agropecuárias na mesma localidade. Assim, é possível ter uma rotatividade do uso do solo, entre lavoura e pecuária.

A pesquisa aponta que “a combinação de agricultura e pastagem dentro da mesma área leva a sinergias entre os componentes do sistema que podem gerar ganhos de produção, redução de custos e melhoria dos serviços ecossistêmicos de biodiversidade”.

Além disso, a integração contribui para a redução de perdas na atividade agrícola relacionados ao clima e à variação de preços de mercado.

De acordo com os estudos, o setor agropecuário era responsável por 28% das emissões totais de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil. Ao mesmo tempo, também era o que mais emitia gás metano (CH4) no país, o que equivale a 76,1% das emissões.

Segundo o estudo, essas áreas de pastagem ocupam cerca de 167 milhões de hectares do território nacional. Deste total, cerca de 42%, ou 70,9 milhões de hectares apresentam degradação moderada ou severa.

Conforme as conclusões da pesquisa, até 2030 haveria a remoção líquida total de 1.223,6 Mt CO2eq, em média 94,1 Mt CO2eq/ano, invertendo, dessa forma, as emissões do sistema de pecuária associadas às pastagens.

Soja

Outro ponto importante a ser destacado na área das plantações é a soja brasileira, que atualmente já é considerada uma cultura de “baixo carbono” e emite cerca de 9 Mt CO2eq ao ano.

Isso se deve ao sistema de plantio direto (SPD), que consiste em plantar as sementes sem as etapas de aragem e gradagem do solo — ou seja, sem um preparo anterior da área. Essa técnica promove a proteção do solo, que se mantém coberto com vegetação ou com plantas em desenvolvimento.

Por meio da expansão do SPD até 2030, um total de 25,9 Mt CO2eq poderiam deixar de ser jogados na atmosfera, já que esse sistema aumenta o potencial de sequestro de carbono da soja.

Ademais, os pesquisadores apontam ainda que a produção do grão no Brasil tem potencial para não ser apenas “carbono neutro”, como também um sumidouro de carbono.

Conclusão

Em resumo, aprendemos neste artigo o que é o sequestro de carbono, que consiste no processo de retirada do gás carbônico (CO₂) da atmosfera para evitar impactos como o aquecimento global.

Ele pode ser realizado de forma espontânea pela natureza, pela fotossíntese, ou por meio de práticas agrícolas como o sistema de plantio direto e a rotação de culturas, por exemplo, que promovem o armazenamento do CO₂ no solo e a redução das alterações drásticas do clima.

Para os próximos anos, a perspectiva é que o setor do agronegócio contribua significativamente na redução do acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Este cenário poderá se concretizar especialmente por meio de métodos específicos de cultivo na produção agrícola.

Gostou desse conteúdo? Então, aproveite e leia nosso artigo sobre sustentabilidade no campo.

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Rafaella Aires

Formada em Jornalismo, pós-graduada em Marketing e especialista em Comunicação Digital, atuo como Analista de Conteúdo no AgriQ Receituário Agronômico.

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