Você sabe o que é o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc)?
Este instrumento de política agrícola, adotado nacionalmente, ajuda o produtor rural a planejar a safra de forma a evitar perdas na produção.
Além disso, o Zarc também é um importante mecanismo para os programas de seguridade agrícola do governo federal.
Neste artigo, vamos explicar como funciona o Zarc e qual sua importância para a agricultura brasileira.
Então continue a leitura para saber mais!
O que é o Zoneamento Agrícola de Risco Climático?
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é um estudo que identifica regiões e épocas de menor risco climático para o plantio e semeadura das culturas. A definição do período considera diferentes características — como clima, solo, espécies, tipos de cultivares e sistemas de produção — para orientar os produtores rurais e minimizar possíveis perdas agrícolas decorrentes de adversidades climáticas.
Instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e realizado com apoio técnico-científico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Zarc é um instrumento nacional de política agrícola e gestão de riscos.
Atualmente, é gerenciado pelo Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático, regido pelo Decreto nº 9.841/2019.
Quando e como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático foi adotado no Brasil?
O primeiro esboço do que seria o Zarc começou com estudos nos anos 80 da Embrapa Arroz e Feijão.
Na época ainda com o nome Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão (CNPAF), a instituição passou a desenvolver trabalhos sobre zoneamento agroclimático. Os estudos investigavam o regime pluvial e o balanço hídrico e eram realizados para períodos de cinco dias, em 80 localidades produtoras de arroz de sequeiro no Brasil.
Por meio da pesquisa, foi possível identificar regiões com menor risco climático — ou seja, em que os fatores climáticos favoreciam o cultivo do arroz de sequeiro — e as com maior risco climático — isto é, os locais desfavorecidos para o cultivo. Assim, a partir dessas constatações, o CNPAF foi capaz de verificar quais eram os períodos mais favoráveis de semeadura para Goiás.
Em agosto de 1990, durante uma visita ao CNPAF, o ministro da agricultura na época, Antônia Cabrera Mano Filho, resolveu adotar os estudos sobre zoneamento agroclimático como um instrumento do Ministério da Agricultura. O objetivo era reduzir a cobertura do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), iniciativa do governo que exonera pequenos e médios produtores rurais de pagar os financiamentos de custeio agrícola quando houver redução da produção agrícola em decorrência de eventos climáticas ou pragas e doenças sem controle.
Portanto, podemos dizer que o interesse do governo federal nos estudos de zoneamento agroclimático almejava garantir uma produção agrícola mais assertiva, com menos perdas. Na prática, isso significava que com lavouras bem sucedidas, pequenos e médios produtores rurais recorreriam menos ao Proagro, o que ajudaria os órgãos públicos a economizar no pagamento de indenizações do programa.
Zarc como instrumento nacional
Inicialmente, o zoneamento agroclimático do arroz de sequeiro foi solicitado para os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Em 1995, foi então publicado o do estado goiano, que serviu como referência para o desenvolvimento de um programa mais amplo desenvolvido pelo Mapa a partir da safra 1995/1996.
Assim, sob a coordenação da Secretaria da Comissão Especial de Recursos (CER/Proagro), o Mapa criou o Zarc como conhecemos hoje. Em 1996, o instrumento foi oficialmente adotado pela primeira vez no Brasil, com a publicação do estudo para a cultura do trigo.
Qual a importância do Zoneamento Agrícola de Risco Climático?
O Zarc é um instrumento que amplia a produtividade e a produção total das culturas. Com a definição de regiões a nível municipal e análise de diversos fatores, que vão desde o solo até o tipo de cultivar, a técnica reduz a chance das fases críticas de desenvolvimento da cultura ocorrerem em períodos com maior probabilidade de adversidades climáticas (como falta de água ou temperaturas excessivamente elevadas ou baixas).
Além dos benefícios que gera aos produtores rurais, o Zarc também é importante para a seguridade agrícola — o instrumento é um critério avaliado pelas instituições e agentes financeiros na hora de conceder o crédito ao agricultor. Essa foi uma forma que o governo federal encontrou, como mencionamos acima, de reduzir custos na área.
Sendo assim, para que o produtor rural tenha acesso ao Proagro (modalidade geral para todos os agricultores) e ao Proagromais (modalidade para agricultores familiares) e ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), é preciso que ele siga o zoneamento agrícola da região e cultura que ele cultiva.
Como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático é elaborado?
Os estudos para elaboração do Zarc analisam três parâmetros principais: clima, solo e ciclos de cultivares. A instituição responsável pelo desenvolvimento e validação da metodologia para as pesquisas é a Embrapa, que também realiza aplicação do zoneamento agrícola no país.
Desse modo, a partir das análises desses fatores, é possível quantificar os riscos climáticos que podem ocasionar perdas na produção agrícola.
Após a Embrapa concluir o estudo, há o processo de validação do Zarc. Essa é uma etapa realizada por meio de seminários técnicos e reuniões em conjunto com representantes do Mapa e do setor produtivo. Produtores rurais, pesquisadores e empresas de planejamento interessados no instrumento também podem participar.
Com os resultados do estudo, o Mapa publica o Zarc de cada cultura por meio de portarias. Os documentos, disponibilizados no Diário Oficial da União (DOU) e no site do ministério, contém:
- Relação de municípios;
- Tipos de solos aptos ao cultivo;
- Cultivares indicadas;
- Calendário para plantio ou semeadura.
O Zarc está em constante atualização. Os estudos são revisitados a cada cinco anos, de forma a incorporar novas metodologias, tecnologias, informações e demandas.
Quais culturas possuem Zoneamento Agrícola de Risco Climático?
Atualmente, o Brasil possui Zarc para mais de 44 culturas, divididas entre espécies de ciclo anual e permanente, que contemplam todas as unidades da federação.
Como acessar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático da minha cultura ou região?
Você pode verificar o zoneamento agrícola da sua cultura ou região de diferentes formas:
- Pelo site do Mapa, na seção de Portarias. Nela, você faz a seleção por estado e posteriormente, por cultura.
- Por meio do Sistema de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (SISZARC). Nele, o usuário pode realizar a consulta de cultivares indicadas a partir da safra 2016/2017.
- Pelo Painel de Indicação de Riscos, em que é possível realizar a busca com uso de filtros como unidade de federação, municípios, safra, cultura, solo e grupo.
- Pelo aplicativo Zarc – Plantio Certo, disponível para sistema Android e iOS.
Quais são as futuras propostas para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático?
Até o fim de 2022, a Embrapa deve atualizar o Zarc e ampliar o zoneamento agrícola de mais de 30 culturas. A expansão do programa é resultado de um convênio da empresa e do Mapa com o Banco Central. O acordo conta com a participação da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (FAPED) e prevê a aplicação de R$ 28,5 milhões durante sua vigência.
O Mapa também definiu propostas específicas para o zoneamento agrícola no Plano Safra 21/22. São elas:
- Adotar seis classes de solos, no lugar das três classes atuais, de acordo com a disponibilidade de água;
- Definir níveis de manejo do solo para diferenciar os estudos Zarc, de forma a reduzir os riscos e melhorar as propriedades físico-hídricas do terreno;
- Desenvolver e apresentar a metodologia do ZarcPRO, estudo que irá considerar diferentes níveis de produtividade esperada (PE) para as culturas de soja, milho e cana-de-açúcar até dezembro de 2021.
- Disponibilizar a Tomada Pública de Subsídios (TPS), etapa anterior à validação dos estudos de Zarc, a partir do ano de 2022.
- Atualizações do Aplicativo Plantio Certo – Zarc.
Ainda em 2022, o Mapa divulgou o cronograma de publicações de novos estudos do Zarc para as seguintes culturas:

Cronograma de publicações do Zarc para 2022 (Créditos: Mapa)
Além disso, o Zarc da soja também receberá atualizações, conforme as última. De acordo com o Mapa, a nova versão do estudo para a cultura irá contar com será reavaliado em 2022 para incluir as mudanças do calendário de semeadura e do vazio sanitário.
O novo Zarc da soja irá incluir estudos sobre:
- Riscos de semeadura conforme o nível de manejo das lavouras;
- Práticas de manejo do solo;
- Cobertura do solo;
- Teor de matéria orgânica;
- Propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e o sistema radicular.
O plano é que as portarias de Zarc sejam publicadas com no mínimo três meses para o início do plantio.
Conclusão
Para que a cultura agrícola alcance todo seu potencial produtivo, é necessário considerar uma série de fatores.
Entre eles, estão as condições do ambiente em que será realizado o cultivo — em especial, o clima.
O Zarc, como vimos neste artigo, é um estudo que busca identificar as regiões e épocas de menor risco climático para o plantio e semeadura de diferentes culturas.
No Brasil, o Zarc é implantado desde os anos 90. O instrumento deu tão certo que se tornou uma política nacional e hoje, é utilizado no cultivo de cerca de 44 culturas.
O sucesso do Zarc como uma ferramenta para a produtividade agrícola reforça o papel da ciência e tecnologia na agricultura. Além disso, também ressalta a importância da avaliação das condições ambientais para o cultivo.
Gostou desse conteúdo? Aproveite e confira nosso artigo sobre controle de pragas agrícolas.

Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.
0 comentários