Um dos grandes desafios do produtor rural de milho é saber como prevenir as doenças que afetam o desenvolvimento da cultura.
No caso do cereal, algumas podem comprometer mais de 80% da produção e causar imensos prejuízos para a lavoura.
Mas como evitar o surgimento ou, até mesmo, combater essas doenças?
Neste artigo, você vai aprender a identificar as principais doenças que atingem a cultura de milho e a realizar o monitoramento e manejo adequado para combatê-las de forma eficiente.
Nos acompanhe!
Quais as principais doenças do milho?
No geral, as principais doenças da cultura do milho são:
- Ferrugem Comum;
- Ferrugem Polissora;
- Ferrugem Tropical ou Ferrugem Branca;
- Cercosporiose;
- Helmintosporiose;
- Mancha de Diplodia;
- Enfezamentos;
- Mosaico comum;
- Podridão da Espiga.
Conheça mais sobre elas abaixo!
Ferrugem comum (Puccinia sorghi)
No Brasil, a ferrugem comum tem ampla distribuição com severidade moderada, mas possui maior prevalência nos estados da região Sul.
Na prática, seus sintomas consistem em pústulas formadas na parte aérea da planta e são mais abundantes nas folhas.
Assim, em contraste com a ferrugem polissora, as pústulas são formadas em ambas as superfícies da folha, apresentando um formato circular a alongado. Elas também se rompem rapidamente.
As temperaturas baixas (16 a 23º C) favorecem seu aparecimento, sendo que a alta umidade relativa (100%) contribui para o desenvolvimento da doença. Para combatê-la, o ideal é recorrer ao plantio de cultivares com resistência genética.
Ferrugem Polissora (Puccinia polysora)
A ferrugem polissora está distribuída por toda a região Centro- Oeste, Noroeste de Minas Gerais, São Paulo e parte do Paraná.
Seus sintomas são a presença de pústulas marrom claras em formato circular e oval, espalhadas na face superior das folhas.
Também estão presentes na face interior da folha, mas com menor abundância.
A altitude é um dos principais fatores que propiciam a ocorrência da ferrugem polissora. Por isso, elas ocorrem com maior intensidade em altitudes abaixo de 700 membros. No entanto, altitudes acima de 1200 metros são desfavoráveis ao desenvolvimento da doença.
Para realizar o manejo da doença, geralmente, utiliza-se o plantio de cultivares com resistência genética.
Ferrugem Tropical ou Branca
No Brasil, a ferrugem tropical encontra-se distribuída no Centro-Oeste, e no Sudeste (norte de São Paulo e com maior ocorrência em plantios contínuos de milho, principalmente em áreas de pivot).
Entre os sintomas, podemos citar a presença de pústulas brancas ou amareladas, em pequenos grupos, de 0,3 a 1,0 milímetro de comprimento na superfície superior da folha, paralelamente às nervuras.
Assim como os outros tipos de ferrugem, o manejo da doença pode ser feito por meio do plantio de cultivares resistentes.
Vale ressaltar que os plantios contínuos tendem a agravar o problema causado pelas ferrugens em geral. Por isso, o ideal é promover a alternância de genótipos e a interrupção no plantio durante um certo período para que ocorra a morte dos uredósporos (tipo de esporos do fungo).
Cercosporiose (Cercospora zeae-maydis)
Primeiramente, a cercosporiose foi observada no sudoeste do estado de Goiás em Rio Verde, Montividiu, Jataí e Santa Helena, no ano de 2000.
No entanto, com o passar dos anos, a doença atingiu praticamente todas as áreas de plantio de milho na região centro sul do Brasil. Ela costuma ocorrer com alta severidade em cultivares suscetíveis, com perdas significativas, superiores a 80% da lavoura.
De modo geral, os sintomas da cercosporiose caracterizam-se por manchas de coloração cinza, retangulares a irregulares, com as lesões desenvolvendo-se paralelas às nervuras. Além disso, pode ocorrer acamamento em ataques mais severos da doença.
A disseminação da doença, por ser causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, acontece por meio de esporos e restos de cultura, que são levados pelo vento e por respingos de chuva.
Para prevenir as doenças, as recomendações são: plantar cultivares resistentes; evitar a permanência de restos da cultura de milho em áreas na qual a doença ocorreu com alta severidade; e realizar rotação com culturas como soja, sorgo, girassol, algodão e outras, já que o milho é o único hospedeiro do fungo.
Helmintosporiose (Exserohilum turcicum)
A helmintosporiose tem causado prejuízos em plantios de safrinha: as perdas podem atingir até 50% em ataques antes do período de floração.
Em geral, os sintomas da helminstopirose são lesões alongadas, elípticas, de coloração cinza ou marrom e comprimento variável entre 2,5 a 15cm. A manifestação inicial da doença costuma ocorrer nas folhas inferiores.
Quanto à disseminação, ela ocorre pelo transporte de conídios (esporos do fungo) pelo vento à longas distâncias. Logo, temperaturas moderadas (18 a 27ºC) são favoráveis à doença, bem como a presença de orvalho.
Ademais, para realizar o controle da doença, é necessário plantar de cultivares com resistência genética e investir na rotação de culturas.
Mancha de Diplodia (Stenocarpella macrospora)
Apesar de estar presente nos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia e Mato Grosso e na região sul do país, a mancha de Diplodia tem ocorrido com baixa severidade até o momento.
Entre os sintomas da doença, podemos citar lesões alongadas, grandes, semelhantes as causadas pelo fungo Exserohilium turcicum, anteriormente denominado Helminthosporium turcicum. A diferença é que a mancha de diplodia apresenta, em certo local da lesão, um pequeno círculo visível contra a luz (ponto de infecção), que pode atingir até 10 cm de comprimento.
A disseminação do fungo Stenocarpella macrospora ocorre por meio dos esporos, que são levados pelo vento e por respingos de chuva.
É importante observar que os restos de cultura são fonte de disseminação da doença para outras áreas. Por isso, o controle e prevenção pode ser feito com plantio de cultivares resistentes e rotação de culturas.
Enfezamentos
Em síntese, os enfezamentos do milho são causados por bactérias da classe Mollicutes, do gênero Spiroplasma e Phytoplasma.
Sua transmissão é feita pela cigarrinha da espécie Dalbulus maidis, popularmente conhecida como cigarrinha-do-milho. Vetor da doença, o inseto possui cerca de 0,5 cm e tem coloração palha.
Os enfezamentos afetam a produtividade da cultura e ocorrem de forma generalizada nas principais regiões produtoras de milho.
No geral, o período latente entre a aquisição do patógeno e sua transmissão pela cigarrinha varia entre 12 e 28 dias para as bactérias Spiroplasma. Para Phytoplasma, a variação é de 22 a 26 dias.
Já a incidência e a severidade dessas doenças são determinadas pelo grau de susceptibilidade da cultivar. Semeaduras tardias, temperaturas elevadas e densidade elevada de cigarrinhas durante as fases iniciais de desenvolvimento do milho são condições propícias para os enfezamentos.
Por isso, o controle mais eficiente consiste na utilização de cultivares resistentes. No mais, algumas recomendações são: evitar semeaduras sucessivas de milho; fazer o pousio, por um período de dois a três meses, sem a presença de plantas de milho; e alterar a época de semeadura, de modo a evitar que ela seja feita de modo tardio, podem ajudar a prevenir a doença.
Os enfezamentos podem ser divididos entre dois tipos: o vermelho e o pálido.
Enfezamento Vermelho
Como o próprio nome diz, os sintomas típicos são o avermelhamento das folhas, a proliferação de espigas, o perfilhamento (ramos laterais) na base da planta e nas axilas foliares, além de encurtamento dos entrenós.
Enfezamento Pálido
A planta apresenta estrias esbranquiçadas irregulares na base das folhas, que se estendem em direção ao ápice. Elas também normalmente ficam raquíticas, devido ao encurtamento dos entrenós.
Também pode haver proliferação de espigas pequenas e sem grãos. Assim, quando há produção de grãos, eles são pequenos, manchados e frouxos na espiga.
Mosaico Comum
O mosaico comum do milho ocorre praticamente em toda região onde se cultiva o milho. Estima-se que essa doença pode causar uma redução de 50% na produção.
Os sintomas, por sua vez, caracterizam-se pela formação de manchas verde-claro nas folhas: há áreas com a tonalidade de verde normal, o que gera um aspecto de mosaico.
Além disso, as plantas doentes são, geralmente, menores em altura e em tamanho de espigas e de grãos.
A transmissão do mosaico comum do milho é feita por várias espécies de pulgões. Os vetores mais eficientes são as espécies Ropalosiphum maidis, Schizophis graminum e Myzus persicae.
Os insetos adquirem os vírus em poucos segundos ou minutos. Sua transmissão ocorre da mesma forma — também em poucos segundos ou minutos.
Para o controle do mosaico comum, a utilização de cultivares resistentesé o método mais eficiente. Além disso, a eliminação de outras plantas hospedeiras pode contribuir com a redução da incidência da doença.
Podridão da Espiga
Esta doença pode se manifestar de três formas: com a podridão branca da espiga, rosada da espiga ou rosada da ponta da espiga.
Conheça mais sobre elas abaixo:
Podridão Branca da Espiga
Causada pelos fungos Stenocarpela maydis e S. macrospora, as espigas infectadas apresentam os grãos de cor marrom, de baixo peso e com crescimento micelial (parte vegetativa de uma colônia de fungos) na coloração branca, presente entre as fileiras de grãos.
Nesse sentido, no interior da espiga ou nas palhas das espigas infectadas, há a presença de numerosos pontinhos negros (picnídios), denominados como estruturas de frutificação do patógeno.
Assim sendo, o manejo integrado para o controle desta podridão de espiga envolve a utilização de cultivares resistentes, de sementes livres dos patógenos e da destruição de restos culturais de milho infectados.
A rotação de culturas também é recomendada, uma vez que o milho é o único hospedeiro desses fungos.
Podridão Rosada da Espiga
Essa podridão é provocada por Fusarium moniliforme ou Fusarium subglutinans, patógenos que apresentam elevado número de plantas hospedeiras.
Nesse caso, a infecção pode se iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, porém sempre associada a alguma injúria (insetos e pássaros, por exemplo).
Com o desenvolvimento da doença, uma massa cotonosa avermelhada pode recobrir os grãos infectados ou a área da palha atingida.
Em alguns grãos, também ocorre o surgimento de estrias brancas no pericarpo, provocadas pela ação do fungo.
Podridão Rosada da Ponta da Espiga
Conhecida como podridão de giberela (Gibberella zeae), esta doença é comum em regiões de clima ameno e de alta umidade relativa. Portanto, a ocorrência de chuvas após a polinização propicia sua ocorrência.
Assim sendo, a doença inicia-se com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode progredir para a base.
Além disso, a palha pode ser colonizada pelo fungo e ficar colada à espiga.
É importante ressalta que chuvas constantes no final do desenvolvimento da cultura, especialmente em lavouras com cultivar de espigas que não dobram, aumentam a incidência da doença.
Como controlar as doenças no milho?
Conforme fomos explicando as doenças, apresentamos algumas formas de como elas podem ser controladas.
No entanto, é importante destacar que quando se trata da cultura de milho, uma das principais formas de fazer isso é por meio do controle químico.
Isso acontece porque o controle químico tem o intuito de evitar o contato do patógeno com o hospedeiro. Dessa forma, ele se dá especialmente pela utilização de fungicidas sistêmicos, que translocam dentro da planta, ou dos protetores, que atuam protegendo a infecção das plantas pelo patógeno.
Primeiramente, o controle químico deve ser iniciado com o tratamento de semente com fungicidas. Assim, é possível evitar fontes de inóculos nos grãos e prováveis ataques de patógenos do solo.
Entretanto, não basta fazer o controle químico se a lavoura não for monitorada.
Apenas assim é possível identificar as doenças, o nível de dano causado e o momento ideal em que deve ser feito o controle.
Nesse sentido, a quantidade de aplicações de fungicidas a serem realizadas dependerá de vários fatores. Alguns deles são a pressão de inóculo, clima e híbrido ou cultivar implantado.
Além disso, para aumento da eficiência do controle, deve-se integrar outros métodos de controle de doenças de plantas, por meio do Manejo Integrado de Plantas (MIP).
Quais tipos de controle podem ser utilizados para evitar o desenvolvimento de doenças no milho?
Os controles recomendados para evitar o desenvolvimento de doenças do milho são:
Controle legislativo
Este método, como já diz o nome, se baseia nas leis e normais estaduais e federais para fazer o controle das pragas.
No caso do milho, recomenda-se que os agricultores adotem as legislações fitossanitárias sobre a cultura.
Outra orientação é seguir as medidas para evitar as pragas quarentenárias. Vigilância agropecuária e inspeção fitossanitária, dois desses procedimentos, podem ajudar a impedir a entrada dos patógenos na região.
Controle cultural
No caso do controle cultural, nos referimos a adoção de práticas que os produtores costumam utilizar no momento do cultivo.
Para fazer o controle das doenças que afetam o milho, adotar o espaçamento adequado entre as fileiras das plantas pode ajudar. Manejo de irrigação e adubação também favorecem o desenvolvimento do milho, em detrimento das doenças.
Controle físico
Aqui, vamos utilizar os métodos de origem física para o controle das doenças.
Um dos procedimentos recomendados é retirar as plantas doentes da lavoura. Assim, você impede a proliferação da doença nas que estão ao redor.
Outra opção é eliminar os hospedeiros selvagens da doença. A aração profunda do solo também ajuda, bem como a limpeza de máquinas e equipamentos, que evita o transporte de pragas.
Controle genético
A tecnologia e a pesquisa científica são dois grandes aliados do agronegócio.
Por meio das duas, foi possível realizar o melhoramento genético de diversos cultivares, que os deixam tolerantes ou resistentes à doenças e outras pragas.
Assim, ao optar por essas plantas, o produtor assegura que sua produção terá menos chances de ter perdas decorrentes da ação dos patógenos.
Controle biológico
No controle biológico, utilizamos os inimigos naturais de uma praga para mantê-la em um nível tolerável, que não prejudique a lavoura.
Conclusão
Enfim, podemos ver que as doenças que acometem as culturas de milho são causadas por diferentes agentes: fungos, bactérias, vírus e nematoides, entre outros.
No entanto, é importante ressaltar que não é apenas a presença do patógeno que influencia o desenvolvimento da doença. Outros fatores, como um animal hospedeiro suscetível e condições ambientais favoráveis, também contribuem para isso.
Contudo, para combater as doenças, é preciso ficar atento ao monitoramento das doenças na lavoura e integrar, com equilíbrio, vários métodos de controle. Dessa maneira, você garante um uso mais consciente dos agrotóxicos, aplicando-os apenas quando for necessário.
Gostou desse conteúdo? Aproveite e leia também nosso artigo sobre os fatores que afetam o desenvolvimento do milho.
Jornalista e Analista de Conteúdo no Conexa, hub de inovação da Aliare.
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