Imagem de destaque para artigo sobre capim-amargoso publicado no Blog AgriQ (Créditos: Nancy Ayumi Kunihiro | Shutterstock)

Capim-amargoso: o que é e como controlar?

Capim-amargoso: o que é e como controlar?

O capim-amargoso é uma das plantas daninhas mais agressivas e difíceis de controlar nas lavouras brasileiras. Sua rápida disseminação, alta competitividade e resistência a herbicidas tornam essa planta uma verdadeira ameaça à produtividade no campo.

Neste artigo, você vai entender o que é o capim-amargoso, como identificá-lo e quais são as estratégias mais eficazes de controle para evitar prejuízos na sua lavoura.

Confira a seguir!

O que é o capim-amargoso?

O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma planta daninha de grande ocorrência em diversas regiões do Brasil. Conhecida por sua alta capacidade de adaptação e reprodução, ela se tornou um dos principais desafios dos agricultores, já que causa prejuízos significativos à produtividade.

Como identificar o capim-amargoso na lavoura?

A princípio, para identificar o capim-amargoso na lavoura, é necessário observar as fases de desenvolvimento da planta daninha e ficar atento em relação às suas características. Confira a seguir!

1. Fase de plântula (estágios iniciais)

Nessa fase, a identificação pode ser mais desafiadora, mas alguns detalhes são importantes:

Emergência: o capim-amargoso emerge com uma folha estreita e alongada, típica de gramíneas.

Primeiras folhas: as folhas jovens podem ter uma coloração verde-clara a arroxeada. Às vezes, as bainhas (parte da folha que envolve o caule) podem apresentar alguns pelos esparsos.

Cotilédone: o cotilédone (primeira folha verdadeira da planta) é pequeno e pouco visível.

Nessa fase, é importante monitorar a lavoura de perto, pois o capim-amargoso cresce rapidamente e forma rizomas (caules subterrâneos) cerca de 45 dias após a emergência, o que dificulta o controle posteriormente.

2. Fase vegetativa (planta jovem e adulta)

Conforme a planta se desenvolve, algumas características se tornam mais evidentes como:

Porte e hábito de crescimento: o capim-amargoso é uma planta ereta, que pode atingir até 1,5 metro de altura. Ele tende a formar touceiras densas e vigorosas, que se destacam no meio da cultura. Essa formação de touceiras é uma característica chave para sua identificação em estágios mais avançados.

Folhas: são lineares (estreitas e alongadas), com cerca de 10 a 30 cm de comprimento e 3 a 10 mm de largura. Podem ser lisas ou apresentar alguns pelos esparsos nas bainhas e na superfície. A coloração varia do verde-claro ao verde mais escuro, podendo ter tons arroxeados na base.

Colmos (Caules): são estriados e podem ser eretos ou, em alguns casos, prostrados ao chão, ramificados e achatados.

Rizomas: abaixo do solo, o capim-amargoso desenvolve um sistema radicular com curtos e ramificados rizomas fibrosos. A presença desses rizomas é o que o torna perene e permite a rebrota da planta.

3. Fase reprodutiva (florescimento e sementes)

O capim-amargoso afeta principalmente as culturas de grãos (Créditos: Germani Concenço | Embrapa Agropecuária Oeste)
O capim-amargoso afeta principalmente as culturas de grãos (Créditos: Germani Concenço | Embrapa Agropecuária Oeste)

Nessa fase, o capim-amargoso é muito fácil de identificar e é quando ele se torna mais perigoso para a dispersão.

Inflorescência (flor)

A principal característica nessa fase é a formação de uma inflorescência tipo panícula, que se assemelha a um “guarda-chuva” ou “pincel” com ramificações finas.

A panícula geralmente tem entre 15 e 30 cm de comprimento e é formada por 20 a 50 ramos (racemos) de 10 a 15 cm, que são cobertos por pelos sedosos, de coloração amarelo-prateada. Essa aparência “algodonosa” das sementes é muito distintiva.

Sementes

As sementes são pequenas, leves e pilosas (com muitos pelos), o que facilita sua dispersão por máquinas agrícolas, animais e vento a longas distâncias.

Quais são os danos causados pelo capim-amargoso?

O capim-amargoso causa uma série de danos significativos na lavoura, impactando diretamente a produtividade, a qualidade dos produtos e os custos de produção para o agricultor. Os principais danos são:

Redução da produtividade das culturas

A redução da produtividade ocorre devido a competição por recursos. Afinal, essa planta daninha compete agressivamente com as plantas cultivadas por água, luz, nutrientes e espaço.

Água: em períodos de estiagem, a competição por água é ainda mais crítica, levando a um estresse hídrico maior para a cultura.

Luz: o capim-amargoso pode crescer rapidamente e sombrear as plantas cultivadas. Isso impede que elas realizem a fotossíntese de forma eficiente, o que afeta seu desenvolvimento e enchimento de grãos.

Nutrientes: ele absorve nutrientes essenciais do solo, diminuindo a disponibilidade para a cultura principal e comprometendo a nutrição e o vigor das plantas.

Espaço: a alta densidade de capim-amargoso ocupa o espaço que seria da cultura, limitando seu crescimento e desenvolvimento radicular e aéreo.

Aumento dos custos de produção

Para combater a presença do capim-amargoso, é necessário utilizar vários herbicidas, especialmente o glifosato. Assim, a combinação de diferentes princípios ativos e aplicações sequenciais eleva significativamente os custos com agrotóxicos.

Além disso, em alguns casos, especialmente em infestações severas ou áreas menores, a capina manual pode ser necessária, o que aumenta os custos com mão de obra.

Dificuldade de manejo e colheita

As touceiras densas de capim-amargoso podem atrapalhar o maquinário de colheita, causando embuchamento de plataformas, desgaste de peças e perdas de grãos na hora da colheita.

Ademais, a presença de biomassa verde do capim-amargoso no momento da colheita pode aumentar a umidade dos grãos da cultura, exigindo mais gastos com secagem e armazenagem.

Hospedeiro para pragas e doenças

O capim-amargoso pode servir como “ponte verde” ou hospedeiro alternativo para certas pragas e doenças, que podem migrar do capim para a cultura principal, aumentando a incidência de problemas fitossanitários na lavoura.

Desvalorização da terra

As áreas severamente infestadas por capim-amargoso podem ter seu valor de mercado reduzido. Isso ocorre devido à percepção que a planta daninha é um problema de difícil controle, bem como a possibilidade de investimentos adicionais serem necessários para a sua erradicação.

Em resumo, o capim-amargoso pode causar perdas diretas na produtividade, elevando os custos operacionais e dificultando a sustentabilidade dos sistemas de produção. Por isso, seu manejo eficaz é um dos maiores desafios fitossanitários enfrentados pelos produtores rurais atualmente.

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Por que o capim-amargoso é considerado uma planta daninha de difícil controle?

O capim-amargoso é considerado uma planta daninha de difícil controle por uma combinação de fatores biológicos e evolutivos que o tornam altamente adaptável e resiliente. Veja os principais motivos:

Resistência a herbicidas

O capim-amargoso desenvolveu resistência a um dos herbicidas mais utilizados e eficazes, o glifosato, que é a base de muitos sistemas de plantio direto em culturas como soja e milho.

Além da resistência ao glifosato, foram identificados biótipos com resistência múltipla — ou seja, resistentes a mais de um grupo de herbicidas (por exemplo, glifosato e inibidores da ACCase, os chamados graminicidas). Isso limita drasticamente as opções de controle químico eficazes.

Crescimento e desenvolvimento

O capim-amargoso tem como característica a formação de touceiras densas e vigorosas. Isso dificulta a penetração do herbicida nas partes internas da planta e protege as gemas de crescimento.

Além disso, após a emergência, o capim-amargoso cresce rapidamente, especialmente em condições favoráveis. Como resultado, o controle dele passa a ser mais desafiador, pois as plantas ficam maiores e lignificadas (endurecidas), o que prejudica a absorção e translocação dos herbicidas.

Reprodução

O capim-amargoso se reproduz tanto por sementes quanto por rizomas. Essa característica dificulta o controle, já que mesmo após a eliminação das plantas aéreas, os rizomas podem continuar gerando novas plantas.

Ciclo perene

O capim-amargoso é uma planta perene, o que significa que pode viver por mais de um ano, prolongando o ciclo de reprodução e aumentando a dificuldade de controle.

Como fazer o controle eficaz do capim-amargoso?

O controle eficaz do capim-amargoso exige uma abordagem integrada, combinando diferentes táticas de manejo para superar sua resistência a herbicidas e sua biologia persistente. Não há uma solução única — ou seja, o sucesso reside na diversificação e na aplicação estratégica.

Manejo químico (herbicidas)

O uso de herbicidas é fundamental, mas deve ser feito de forma inteligente para evitar o surgimento de novas resistências e para ser eficaz contra os biótipos já resistentes. Entenda:

Rotação de modos de ação: nunca use repetidamente o mesmo herbicida ou herbicidas com o mesmo modo de ação (classificação HRAC). Alterne e combine produtos de grupos diferentes para atingir a planta por várias frentes.

Pré-emergentes: aplique herbicidas pré-emergentes imediatamente após o plantio (ou antes da emergência da cultura) para criar uma barreira química que impessa a germinação das sementes de capim-amargoso.

Pós-emergentes: para plantas já germinadas, use herbicidas pós-emergentes.

Herbicidas com diferentes modos de ação: para capim-amargoso resistente ao glifosato, explore outras opções como inibidores da ALS (se não houver resistência a esse grupo), inibidores de fotossíntese (ex: atrazina para milho e cana) ou aplicações sequenciais de diferentes herbicidas.

Aplicação no momento certo: herbicidas são mais eficazes em plantas jovens (até 2 a 3 perfilhos, ou com 10-15 cm de altura) e que não tenham formado rizomas extensos. Plantas maiores e lignificadas são muito mais difíceis de controlar.

Doses e cobertura: utilize as doses recomendadas pelo fabricante e garanta uma excelente cobertura da planta com a calda de pulverização. Adjuvantes e tecnologias de aplicação (bicos, volume de água) são fundamentais para obter eficácia.

Manejo da rebrotas: como o capim-amargoso rebrota dos rizomas, muitas vezes são necessárias aplicações sequenciais (dois herbicidas diferentes ou duas aplicações do mesmo produto com intervalo) para controlar as rebrotes.

Manejo cultural

O controle cultural do capim-amargoso consiste em práticas agrícolas que visam reduzir a infestação e o desenvolvimento da planta sem o uso de herbicidas ou métodos mecânicos.

Entre as medidas aplicadas estão a rotação de culturas, a utilização de cobertura do solo, a escolha da época e espaçamento do plantio e o manejo de touceiras.

Veja abaixo como essas práticas contribuem para o controle do capim-amargoso:

Rotação de culturas: alternar diferentes tipos de culturas na área, evitando o cultivo repetitivo de gramíneas, ajuda a reduzir a população do capim-amargoso.

Cobertura do solo: manter o solo coberto com restos de culturas ou plantio de cobertura vegetal no período de entressafra pode suprimir o crescimento da planta daninha.

Época e espaçamento do plantio: escolher a época de plantio e o espaçamento adequado para as culturas, permitindo um fechamento rápido do dossel e uma maior competição com o capim-amargoso.

Manejo de touceiras: retirar as touceiras do capim-amargoso, especialmente em áreas com menor infestação, pode ajudar a controlar a planta.

Monitoramento constante

O monitoramento constante também faz parte dos métodos de controle do capim-amargoso. Para executá-lo, será necessário realizar inspeções regulares e o mapeamento da infestação.

Inspeções regulares: visite a lavoura frequentemente para identificar as primeiras plantas de capim-amargoso. Quanto mais cedo a detecção, mais fácil e barato será o controle.

Mapeamento da infestação: identifique as áreas mais infestadas na propriedade. Isso permite otimizar a aplicação de herbicidas e focar o controle onde é mais necessário.

Em geral, o recomendado é não depender de apenas de um tipo de herbicida ou de uma única prática. Um programa de manejo integrado, com rotação de culturas, uso de culturas de cobertura, aplicação de herbicidas com diferentes modos de ação e monitoramento constante pode gerar resultados significativos na lavoura.

Conclusão

Neste artigo, aprendemos que o capim-amargoso é uma planta daninha que se destaca por sua alta capacidade de adaptação e reprodução. Sua presença na lavoura pode diminuir a produtividade e elevar consideravelmente o custo de produção.

Para realizar o controle eficaz dessa praga, é necessário adotar práticas integradas como o controle químico, controle cultural e monitoramento constante.

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Gostou desse conteúdo? Então, aproveite e leia nosso artigo sobre controle de plantas daninhas.

Rafaella Aires

Formada em Jornalismo, pós-graduada em Marketing e especialista em Comunicação Digital, atuo como Analista de Conteúdo no AgriQ Receituário Agronômico.

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